(pt) Anarkismo.net: Brazil, Levy e a vitória de Pirro da "esquerda" - análise de conjuntura, semana de 30 de novembro a 6 de dezembro de 2014 by BrunoL
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Sexta-Feira, 5 de Dezembro de 2014 - 18:24:22 CET
Introdução ---- Nesta semana, verificamos mais conseqüências nefastas do 3º Turno e o mito
do governo em disputa. Como quase sempre ocorre a esquerda cujas urgências nunca couberam
nas urnas da democracia indireta está mais que correta. O manifesto de intelectuais,
militantes, coletivos e indivíduos que se aglutinam em torno das idéias do portal Carta
Maior (24/11/14) expressa uma correta indignação daqueles que apoiaram a candidatura de
Dilma, cerraram fileiras para o apertado 2º turno e agora se vêem diante do estelionato
eleitoral.? ---- A ex-guerrilheira, o ex-sindicalista que segundo o próprio nunca fora de
esquerda e o eterno Chicago Boy, direto das hostes de Milton Friedman para, sob a bênção
de Lázaro Brandão, governar a 7ª economia do mundo. Para a massa iludida do "voto ideológico"
Em texto publicado no referido portal e com coleta permanente de assinaturas eletrônicas,
quem contesta as decisões de cúpula conclama as bases de apoio a reeleição de Dilma a
simplesmente forçá-la a cumprir suas promessas e compromissos de campanha! Ao escrevermos
a este respeito pode parecer provocação ou sectarismo, mas quando a própria esquerda que
ainda apóia o governo de coalizão analisa que as indicações abaixo citadas são uma nítida
guinada para a direita é porque estamos em um campo de luta aberto e deflagrado.
Para quem não acredita em governo em disputa (como é o caso deste analista), entendo que é
o momento oportuno de reivindicar uma nova forma de acumulação de forças, indo além do
constrangimento de quem é petista ainda e tem conduta e trajetória reivindicável.
Selecionei este trecho do texto abaixo do manifesto, pois entendo ser ilustrativo. O
embate está só começando e o 3o turno pelo visto vai ser uma peleia de longo prazo, até
mais dura do que o 2o turno.
"No terceiro turno que está em jogo, a presidenta eleita parece levar mais em conta as
forças cujo representante derrotou do que dialogar com as forças que a elegeram.
Os rumores de indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu para o Ministério sinalizam uma
regressão da agenda vitoriosa nas urnas. Ambos são conhecidos pela solução conservadora e
excludente do problema fiscal e pela defesa sistemática dos latifundiários contra o meio
ambiente e os direitos de trabalhadores e comunidades indígenas.
As propostas de governo foram anunciadas claramente na campanha presidencial e apontaram
para a ampliação dos direitos dos trabalhadores e não para a regressão social. A sociedade
civil não pode ser surpreendida depois das eleições e tem o direito de participar
ativamente na definição dos rumos do governo que elegeu."
Há que ser justo com Dilma. Jamais em momento ela ou Lula ou a coordenação de campanha
comprometeram-se com mecanismos de consulta, mesmo que indireta, para com a sociedade
civil mobilizada para sua reeleição. Na ausência de mecanismos institucionais para
reforçar a soberania popular, a única forma de ser escutado é pela pressão de ruas,
fazendo oposição de esquerda a este mesmo governo que aqueles a assinar o manifesto
ajudaram a eleger.
Mais da chantagem institucionalizada do PMDB, PP e demais "aliados"
Ao longo das duas últimas semanas, antes de Dilma colocar Levy e Nelson Barbos, além da
continuidade de Alexandre Tombini como uma situação de fato, houve um princípio de
rebelião dos "aliados". A base do governo trabalha a passos lentos enquanto prepara o
cerco por dentro. Os caciques não votaram a alteração da meta de superávit primário (por
duas ocasiões), votação esta que era justamente a manobra do Planalto para evitar
constrangimentos para os novos titulares das pastas econômicas a assumir. Nas pautas dos
jornalões, muito se falou a respeito disso e, como sempre, faltou alguém problematizar o
fantasioso superávit primário, que opera como certificação de Estado obediente para os
especuladores internacionais.
Estamos batendo metas fixadas na quebradeira de 1999 ainda! E nas semanas que seguem, dá
tempo de sobra para a base "governista" diminuir o espaço de manobra da presidente
reeleita. Os titulares da articulação do 2o governo Dilma, Aloizio Mercadante, Miguel
Rossetto e Jaques Wagner, vão aplicar a expertise na interna da esquerda para tentar domar
o apetite voraz da coalizão. Que fim de carreira companheiro.
Dilma, Levy e louca teoria do governo em "disputa"
O discurso de Joaquim Levy, ministro da Fazenda do 2o governo de Dilma e indicado pelo
Bradesco quando da recusa de Luiz Carlos Trabuco, outro executivo do conglomerado de
serviços financeiros comandado por Lázaro Brandão, traz elementos de tipo monetarista e
apontariam um retrocesso. Tal afirmação é de Breno Altman, editor do portal Opera Mundi
(boa fonte de política internacional) e para corroborar o texto que saíra na Carta Maior
(em 28/11/14), o especialista em editoria de Mundo nos aponta alguns dados irrefutáveis.
- de março de 2013 a outubro de 2014, a Selic pulou de 7,25% para 11,25% ao ano.
- cresceu a renda financeira das vinte mil famílias que controlam 70% dos títulos da
dívida interna. Mas deterioraram-se as contas públicas: quatro pontos a mais de juros
significam despesa anual extra ao redor de R$ 120 bilhões.
O que fica de dúvida é até quando os setores petistas que ainda têm algum sistema de
crença no protagonismo popular ou ao menos algum tipo de opção preferencial pela soberania
e o emprego direto, vão seguir com a louca teoria (ou justificativa) do "governo em disputa"?!
Levy e a vitória de Pirro da "esquerda"
Agora, para regozijo da mídia conservadora e seus analistas políticos e econômicos, o
governo de continuidade do lulismo dá as bases para a afirmação de estelionato eleitoral.
O argumento de Merval Pereira reproduz a mesma afirmativa de Bolívar Lamounier, a da
vitória nas urnas descompassada com a vitória política - ou a falta de legitimidade como
mais importante do que a legalidade do pleito. Vejamos abaixo:
"O que esse pessoal não quer enxergar, e que Dilma foi obrigada a entender, é que a
vitória eleitoral do PT em outubro não correspondeu a uma vitória política, pois forjada à
base do abuso da máquina pública e mentiras, sejam as divulgadas pela propaganda
eleitoral, ou as espalhadas em diversas formas pelo país para amedrontar os menos
informados." (Blog do Merval, no portal de O Globo, em 28/11/14).
Ou seja, se por um lado temos traição simbólica de Dilma - porque traição programática
temos de admitir que não foi - de outro, o 3o turno caracteriza um intento de retirada de
legitimidade, a partir da opinião publicada (difundida no caso, distribuída) e da
contestação das direitas (tanto a golpista Udenista como a que aponta Aécio como o
Capriles nacional).
Se por um lado incomodou aos operadores recrutados para gerir a economia no 2o mandato de
Dilma o modesto manifesto assinado por cerca 4930 pessoas até o final desta análise, por
outro, houve uma sensação de Vitória de Pirro para quem assinou o texto de reivindicações
e viu toda a amarra construída por Lula e Palocci no primeiro mandato - quando o próprio
Levy servira como secretário do Tesouro Nacional - retornar menos de um mês após a vitória
nas urnas.
O que a direita econômica quer - adoraria - seria um insulamento das pastas econômicas,
criando uma verdadeira autarquia vinculada teórica e estrategicamente aos grandes agentes
econômicos, com predileção especial para o capital financeiro.
Conclusão
Até a parte lúcida do Financial Times reconhece: a extrema-esquerda européia está certa
quanto a impossibilidade do pagamento da dívida pública odiosa
Eis o paradoxo. Até o Financial Times (em artigo de Wolfgang Münchau, em 23/11/14) admitiu
que estamos certos quanto a insensatez da dívida pública. A Globonews, surpreendentemente
(em 25/11/14) deu o perfil da dívida pública brasileira sendo que esta tem mais de 60% de
sua composição de detentores de títulos brasileiros composta por bancos, fundos de
investimento (pânico, os tais hedge funds!) e, adivinhem, compradores do estrangeiro. Só o
Brasil paga 11,25% ao ano, a média mundial não bate 1 ponto, quando chega a 2 o cassino
financeiro faz festa. Aqui a dívida é o que afunda o investimento público. Ironia do
destino, fica evidente que os ex-militantes reeleitos estão à direita da consciência
dolorida do citado colunista do FT.
From: http://www.anarkismo.net/article/27669
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