(pt) Organização Resistência Libertária [ORL] - A CONSULTA PELA CONSULTA NÃO VALE NADA, O QUE VALE É A LUTA, O SUOR E A BARRICADA! (en)
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Sábado, 16 de Agosto de 2014 - 15:59:22 CEST
De onde vem essa história de Plebiscito?
No início da década de 1990, ou seja, após a derrota de Lula nas eleições burguesas de
1989, grandes encontros para arrebanhar adeptos passaram a fazer parte da agenda da
esquerda institucionalizada. Um exemplo destes momentos foi a primeira semana social
brasileira (1991), organizada por diversos movimentos, sindicatos, partidos de esquerda,
pastorais sociais, acadêmicxs e outras organizações. O Grito dos Excluídos e a assembleia
popular foram atividades em que a esquerda institucionalizada (PT, PC do B, CUT, Pastorais
Sociais, UNE, diversos movimentos e outros grupos minoritários da esquerda) reforçou o
processo eleitoral em algumas edições. A via parlamentar (projetos de lei, audiência
pública, etc.) foi reforçada nesse processo, pautaram-se pontos programáticos dos partidos
reformistas, principalmente do Partido dos Trabalhadores (PT) e de seus aliados. Nesse
contexto de fortalecimento de processos "consultivos", ou melhor, a consulta pela
consulta, a "esquerda" burocratizada traz à cena os Plebiscitos.
No final dos anos 1990 (maio de 1999 no Rio de Janeiro), esta mesma esquerda eleitoreira
foi se articulando em torno da organização do tribunal da dívida externa. Surgiu, então, a
proposta de um Plebiscito Popular. Foi assim que no ano 2000 (1 a 7 de setembro) se
organizou o plebiscito da dívida externa, que tinha entre seus objetivos o fortalecimento
para as próximas eleições. A questão sobre a dívida externa era e é um questionamento que
sempre vem à tona nos debates da esquerda. No período, o processo de discussão em torno da
dívida levantou uma acirrada campanha crítica ao governo FHC e, assim, acabou fortalecendo
as bases para a campanha eleitoral de Lula em 2002.
Os plebiscitos organizados pela esquerda partidária institucionalizada tem a finalidade de
reforçar uma forte base para as campanhas eleitorais. Portanto, essa nefasta consulta
acaba sendo um verdadeiro fim em si mesmo. E por falar em plebiscito, você já ouviu algo
sobre? Você sabe o que é um plebiscito? Plebiscito é quando a população vai às urnas para
aprovar ou não uma determinada questão que já foi elaborada por alguém. O parlamento,
formado por defensorxs do capital, Estado e propriedade privada, decide como vai ocorrer o
processo. No caso dos plebiscitos "populares" que ocorrem no Brasil, esse alguém são os
partidos reformistas da cúpula governista e seus aliados em momentos pontuais.
Na edição de 2007, o lema do plebiscito que defendia a anulação do leilão da Vale do Rio
Doce era: Isto não Vale: Queremos participação no destino da nação. O caráter
nacionalista, que impulsionou a consulta de 2007, só demonstrou que a consulta pela
consulta é o que não vale. Devemos construir laços para além de nossas abstratas
fronteiras e enterrar o discurso de nação. A luta dxs trabalhadorxs é Internacional,
buscando acumular força social nas lutas cotidianas, rumo à transformação social e não se
restringindo a um discurso de cunho nacionalista, reformista e de reestatização, como era
o caso da referida edição.
Nós, da Organização Resistência Libertária (ORL), acreditamos na democracia direta como
ferramenta política que busca a contribuição de toda a população de forma assembleária, em
que os problemas e soluções são colocados pelo povo numa perspectiva horizontal, de
diálogo permanente. Dessa forma, não reforçamos a cultura da urna, a dinâmica pragmática
da eleição e a simples consulta, pois não acreditamos que a vontade política das pessoas
deve se resumir ao simples voto. Queremos participação direta! Queremos construir o
verdadeiro poder popular a partir das lutas populares!
E esse Plebiscito Popular que tanto falam?
A campanha pelo Plebiscito Popular deste ano está sendo puxada por diversos movimentos
sociais, centrais sindicais colaboracionista (CUT, CTB e CSP-Conlutas), entidades
estudantis (UNE e UBES), pastorais sociais e partidos reformistas (PT, PC do B, entre
outros). Um dos pontos abordados para o Plebiscito que ocorrerá em setembro é a falácia da
"luta" por uma nova constituinte, que terá seu ponto alto entre os dias 1º a 7 de
setembro. Todo o processo de preparação e votação serve para esconder o real desejo da
esquerda partidária. Uma assembleia de "representantes" do povo, como é falado em uma
cartilha da referida consulta, é o falso objetivo. O verdadeiro anseio dxs defensorxs do
parlamento que estarão impulsionando o Plebiscito é canalizar as forças do conjunto da
população para a perpetuação da lógica da representação, além de defender uma ideia falida
de manutenção de um Estado mais "democrático". Cravar um alicerce sólido para a
sustentação do Estado e seus mecanismos de dominação também faz parte da vontade dos
partidos e movimentos que defendem a proposta do plebiscito para uma nova constituinte e
uma assembleia de "representantes" do povo.
Temos certeza que não será um plebiscito que resolverá nossos problemas. Não é uma
consulta solicitando uma nova constituinte que servirá para a real luta dxs trabalhadorxs.
O objetivo deste plebiscito "popular" em ano de eleição é fortalecer o projeto político
petista e de outras minorias parasitárias. O plebiscito é parte integrante da agenda
eleitoral das burocracias partidárias para 2014.
O Plebiscito da dívida, ALCA, Vale do Rio Doce, reforma agrária e agora o plebiscito da
constituinte são plebiscitos que tem algo em comum? Simplesmente todas essas edições não
alteraram em nada nenhuma situação questionada! Tal consulta só demonstrou que somente com
luta, pressão popular e trabalho social numa perspectiva combativa pode-se alterar a
realidade social. Reais mudanças em nossa sociedade, historicamente, só foram conseguidas
através de luta, sangue e suor, e não de uma simples votação consultiva.
Esse plebiscito vai mudar nossas vidas?
Entre os diversos motivos que levaram às ruas xs manifestantes em junho e julho de 2013
estão: a falta de saneamento básico, o sistema de saúde precário, um transporte coletivo
de péssima qualidade e uma educação deficitária. Fundamentalmente, dois questionamentos
também estiveram na boca do povo: a crítica às representações e às estruturas
hierárquicas. As duas questões são baseadas em uma forma verticalizada e estão presentes
no sistema político partidário brasileiro. As ruas já demonstraram total condenação a essa
sociedade desigual, injusta e vertical em que vivemos. Sendo assim, é insuficiente um
plebiscito para resolver tais questões/problemas de nosso cotidiano.
Os problemas de nosso povo são muitos e o plebiscito é alheio às nossas necessidades.
Vivemos enlatadxs todos os dias por um sistema de transporte mercadológico que só
beneficia os monopólios do setor; convivemos com um desenfreado aumento de projetos
hídricos que favorecem a dinâmica perversa do agronegócio; somos expulsxs de nossa terra
para a expansão do latifúndio e ficamos em imensas filas nos hospitais sem a mínima
estrutura. Esses são alguns dos milhares de problemas que afligem a população. Não vamos
mudar essa situação através de um plebiscito! Só com LUTA!
Problematizando outra questão injusta, podemos ver o acúmulo do capital
financeiro/bancário dentro do capitalismo selvagem. Os bancos têm balanços financeiros
excelentes: os lucros dos quatro maiores bancos do Brasil, no primeiro semestre de 2014,
somam juntos R$ 10,5 Bilhões. Por exemplo, o Itaú teve um crescimento de 29% em relação ao
primeiro trimestre do ano passado. O governo fecha os olhos para os lucros dos bancos,
pois no mercado financeiro seus gestores acabam tirando sua parte, e, nesse jogo selvagem
da desigualdade, o aprofundamento da miséria cresce constantemente. As mudanças sociais
tão desejadas não virão através de uma simples reforma política, nosso povo já vive
governo após governo com míseras reformas.
As classes oprimidas e os combativos movimentos sociais auto-organizados devem discutir
suas demandas e se mobilizar para a luta concreta que transforme radicalmente nossa
sociedade, fortalecendo mecanismos de democracia direta. A luta cotidiana contra as
estruturas de dominação do Estado exige mecanismos de luta que sejam pautados por
independência, autonomia e uma perspectiva classista.
Um rápido exercício: Quem escreveu a constituição? Quem são aquelxs que escrevem as leis?
Boa pergunta, para entendermos que acabamos não decidindo nada em um processo eleitoral.
Quem decide então? Uma minoria de gravata, defensorxs e detentorxs das empresas do
agronegócio, das corporações, religiosxs da alta cúpula, especuladorxs de terra, policiais
(civil e militar), carcinicultorxs, entre outros. Pois é, são elxs que decidem, inclusive,
seus astronômicos salários. Xs trabalhadorxs na suposta gestão do Estado não mudariam o
quadro apresentado acima, uma vez que o caminho para uma sociedade igualitária só à luta
pode concretizar, o trabalho social continuará e dessa forma, pavimentaremos esse caminho,
sem acreditar em ilusões e na falácia das urnas. Como bem lembrado por nossxs companheirxs
da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), na referência as palavras de Bakunin:
"o Estado não é "neutro", mas uma forma específica de organização das classes dominantes.
Assim, xs trabalhadorxs não podem utilizar o Estado como meio para atingir uma sociedade
socialista e libertária, pois isso só transformará um restrito setor dxs trabalhadorxs
numa nova classe dominante" (LIBERA-FARJ. Nº161, 2014).
Portanto, não acreditamos que um simples voto ou lei possa mudar a realidade, solucionar
determinada questão social e muito menos que uma minoria (burguesa ou proletária) possa
gestar o Estado para resolver nossos problemas. Que nós mesmos auto-organizadxs possamos
resolver nossos problemas!
RUMO A OUTRA CAMPANHA
Acreditamos que podemos transformar a sociedade com nossas próprias mãos, sem intermédio
de um político "profissional" que aparece a cada dois anos. Nossas urgências não cabem nas
urnas, precisamos lutar por uma Outra Campanha, trilhando de forma combativa para além de
qualquer campanha eleitoral ou consultiva. Há muito tempo tentamos resolver nossos
problemas com medidas paliativas e simplificamos as coisas votando. Nossas urgências são
imensas, a luta e a organização popular são extremamente necessárias. Xs de baixo
construindo sua auto-organização, independente de partido, governo, patrão ou igreja é
fundamental no processo de transformação social radical
O diálogo construído nas comunidades de Chiapas pela "La Otra Campaña" impulsionada pelxs
Zapatistas no México em junho de 2005, deu o ponta pé para o surgimento de uma experiência
popular de construção social a partir dos debates nas diversas comunidades indígenas e
camponesas de Chiapas e em outras localidades. Segundo o Subcomandante Marcos:
"Com o lançamento da Outra Campanha, os [as] zapatistas se afastaram totalmente desta
esquerda ao tentar levar adiante a política por outros caminhos e atores, desde baixo, em
que ela não seja o monopólio de um sistema desvirtuado de representação [...]"
(Subcomandante Marcos. Nem o centro e nem a periferia - sobre cores, calendários e
geografias. 2008).
Acolhemos a proposta: A Outra Campanha, criada e desenvolvida pelxs zapatistas no sudeste
mexicano. Não acreditamos da mesma forma nessa esquerda tradicional que apresenta as
mesmas fórmulas e as mesmas promessas a cada dois anos. Não cremos também em modelos
acabados e transplantados de um lugar para outro, a experiência dxs indígenas, camponesxs
e guerrilheirxs zapatistas é fruto de um processo de diálogo intenso em que o aprender e o
ouvir foram e são elementos essenciais para a continuidade dos debates da experiência
zapatista, que apresenta suas características próprias, sua conjuntura particular.
Necessitamos construir espaços e relações sociais que não sejam similares às velhas formas
apresentadas pela esquerda tradicional e pela farsa eleitoral e consultiva. A Outra
Campanha e sua contribuição para a luta social é uma experiência que temos como horizonte,
mesmo com suas fendas e contradições que são intrínsecas a qualquer construção coletiva.
Construiremos essa outra campanha, que não é a eleitoral, lutando e criando poder popular
de acordo com nossos processos culturais e peculiaridades.
Portanto, não acreditamos na farsa eleitoral nem na simples consulta, seja ela plebiscito,
refendo ou as eleições para o legislativo e executivo. Cremos na construção d'A Outra
Campanha, na organização popular e na força das ruas para acumular força social. Para
impulsionar a luta social, a autonomia e a ação direta, nós da ORL, acreditamos naquilo
que o Movimento FOME defende em um de seus materiais, ou seja:
"[...] que os movimentos sociais não sejam partidarizados, que não sirvam de correia de
transmissão para partidos, organizações ou mesmo grupos e coletivos políticos. Esse tipo
de prática que subordina o movimento social aos interesses políticos de uma ou outra
agrupação política retira a autonomia do movimento, limita o movimento aos que aderem à
politica, ao setor hegemônico, causando um esvaziamento do mesmo" (Fanzine do Movimento
Social FOME - Sobral).
Portanto, trabalhamos socialmente ombro a ombro com os movimentos sociais combativos,
dialogando incessantemente na construção do poder popular dentro de uma perspectiva
classista. Construiremos com esses movimentos nas ruas, na linha de frente e com
solidariedade direta. Nem um passo atrás! Avante xs que lutam!!!
PARA ALÉM DAS URNAS E DE QUALQUER FORMA MERAMENTE "CONSULTIVA" PARA O POVO!
RUMO À OUTRA CAMPANHA!
ARRIBA LXS QUE LUCHAN!
LUTAR, CRIAR, PODER POPULAR!
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