(pt) Apoio Mútuo - Revista anarcosindicalista #2 - Saint Imier – Encontro Internacional Anarquista
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Domingo, 10 de Março de 2013 - 10:01:23 CET
De 8 a 12 de Agosto de 2012 teve lugar em Saint Imier, na Suíça, o maior Encontro
Internacional Anarquista das últimas décadas. Mais de 3.000 participantes comemoraram os
140 anos do Congresso de St. Imier que marcou a criação da Ia Internacional
Antiautoritária em 1872, categoricamente posicionada contra as ideias centralistas e
autoritárias de Karl Marx e que viria a dar mais tarde origem à AIT. ---- No âmbito do
Encontro realizou se o 9o Congresso da IFA (Internacional das Federações Anarquistas),
no qual participaram na qualidade de observadores ou convidados várias secções da AIT a
secção portuguesa esteve presente como convidada com o objectivo de fortalecer as
ideias e práticas anarquistas e promover a cooperação entre as organizações.
Congresso da IFA
A IFA reúne federações provenientes
de várias partes do mundo: Federação
Anarquista Francesa, Federação Anar-
quista Ibérica, Federação Anarquista
Italiana, entre outras. Neste congresso
participaram também a CNT e secções
da AIT em algumas sessões abertas do
mesmo. Destacamos aqui a sessão onde
foi apresentada uma análise da crise
económica e social actual, que, aborda-
da também de um ponto de vista técni-
co e especializado, procurou tornar cla-
ro para os presentes os meandros dos
mecanismos financeiros, económicos e
políticos da crise habitualmente escon-
didos debaixo da capa do “difícil e do
“complicado”, só acessível a especialis-
tas. Estes conhecimentos permitem
conceber de forma mais esclarecida
projectos de economia autogerida, as-
sim como podem ajudar na concretiza-
ção efectiva dos mesmos, na medida em
que procuramos destruir o modelo capi-
talista ou, pelo menos, provocarlhe du-
ros golpes e criar alternativas económi-
cas autogeridas e efectivamente solidá-
rias. Outra sessão que gostaríamos de
destacar, pela importância e actualidade
do tema, diz respeito à relação entre Ge-
ografia e Anarquismo na perspetiva de
Élisée Reclus, o geógrafo anarquista.
Nesta sessão apresentouse e discutiu-
se sobre a actualidade e importância da
concepção e métodos de E. Reclus apli-
cados ao estudo da geografia social, sa-
lientando o papel da experiência e da
prática da geografia para a compreen-
são dos problemas sociais de forma a
podermos criar modelos alternativos à
sociedade de classes e estatista. Ainda
nesta sessão foram apresentadas várias
iniciativas no campo do comunalismo
(comunas rurais e urbanas em França)
e federalismo. Fizemos a feliz constata-
ção que essas iniciativas são realizadas
e consolidadas por anarquistas bastante
jovens que simultaneamente empreen-
dem lutas nos campos e nas cidades.
Paralelamente a este programa ofici-
al do congresso da IFA, as secções (es-
panhola, portuguesa e polaca) da AIT
realizaram duas reuniões de trabalho
com os grupos anarcosindicalistas
(ASB da Holanda, IASR da Roménia e
MASA da Croácia). Estes grupos levam
a cabo nos respectivos países acções de
propaganda anarcosindicalista assim
como acções de luta com os trabalhado-
res e desempregados. Participam tam-
bém em acções de solidariedade inter-
nacional tendo como um dos seus ob-
jectivos tornaremse secções da AIT.
Desta forma os assuntos abordados
nestas reuniões de trabalho incidiram
sobre estratégias de organização e con-
solidação destes grupos; estratégias de
implementação e desenvolvimento das
ideias e práticas anarcosindicalistas;
reforço da aproximação e cooperação
entre as secções já existentes da AIT as-
sim como com os grupos em fase de
formação. Foi assim levada a cabo uma
troca de experiências e práticas bastante
enriquecedora que nos deu conta das
diferentes realidades e circunstâncias
de cada país, muitas vezes bastante
hostis à apresentação e divulgação das
ideias anarcosindicalistas como nos
relataram os companheiros da Roménia
e da Croácia.
Encontro Internacional de Anarquistas
O primeiro lugar para o qual todos
se dirigiam era o centro cultural liber-
tário autogerido Espace Noir, que pôs à
disposição a única sala de cinema da ci-
dade, uma sala de conferências, uma
taberna, uma galeria de arte e uma bi-
blioteca. Foi também o centro de emis-
são da Rádio Libertaire, durante os dias
em que decorreu o Encontro. Na entra-
da do espaço havia uma mesa redonda
contendo informações diversas: mapas
da cidade, informações turísticas, pan-
fletos e centenas de programas. O pro-
grama continha um pequeno mapa a
indicar os locais e as actividades a
serem realizadas bem como os res-
pectivos horários. Apresentava tam-
bém informações acerca do aloja-
mento e logística, onde se destaca-
vam a existência de um parque de
campismo, um espaço infantil e du-
as cozinhas autogeridas por compa-
nheiros alemães e holandeses que
preparavam refeições veganas, para
as quais cada um contribuía segun-
do as suas possibilidades.
No total, havia oito centros de
actividades e dois espaços de cine-
ma. Sale du Dojo, para a realização
de workshops; Salle St. Georges, on-
de se realizou o 9o Congresso IFA;
Tente Anarkismo, que pertencia ao
anarkismo.net; Espace Noir, ponto
de informação, concertos e projec-
ção de filmes; Mémoires d’ici, era
principalmente um ponto de leitura;
Salle de spectacle et Salle du Con-
seil, um espaço muito grande para a
realização de conferências, reuniões,
debates e encontros; Patinoire, de-
dicado à Feira do Livro e, por fim, o
Centre de Culture et Loisir et Musée,
onde era possível visitar a exposição
intitulada “Revolução Espanhola
193639”, com cartazes, revistas e
outros testemunhos pertencentes ao
movimento anarquista daquele pe-
ríodo.
Sendo assim, tivemos a oportu
nidade de participar activamente em
várias conferências e debates, que
na maioria foram traduzidos espon-
taneamente por voluntários. De des-
tacar a participação de alguns mem-
bros do SOV do Porto da AITSP na
conferência sobre o sindicalismo de
base, onde participaram também
outras organizações. O SOV/AIT-
Porto partilhou assim a sua experi-
ência apresentando os seus objecti-
vos e aspirações, as acções levadas a
cabo no seio da classe trabalhadora
e desempregada, estratégias utiliza-
das, não deixando de partilhar tam-
bém os reveses e experiências me-
nos boas, pois este SOV encontrase
ainda em fase embrionária. De sali-
entar também outras conferências
como a de M. Pinto sobre a crise
económica, a de Alexandre Samis
sobre o Neno Vasco e o anarquismo
internacionalista no Brasil e Portu-
gal, sendo esta apresentada com o
apoio do nosso companheiro do
Sov/AITPorto. No que respeita à
temática da educação anarquista, os
colectivos Terra Libre, Ativismo
ABC e Grupo de Estudios Domingo
G. Rojas levaram a cabo a conferên-
cia sobre Práticas contemporâneas
de educação anarquista. F. Mintz
apresentou um tema polémico mas
actual e muito pertinente na confe-
rência: A questão do voto sindical
(proporcional) ao longo da história
da AIT e noutras organizações anar-
cosindicalistas actuais. Também a
actual situação da Grécia e as lutas
sociais que aí têm palco deram lugar
a um tema de conferência, por R.
Dreis assim como por A. Jappe A
crise mundial e a sociedade de mer-
cado; entre outras. Em cada dia
houve projecção de filmes, a menci-
onar “Memória Subversiva” de José
Tavares e várias curtametragens
interessantíssimas realizadas pela
Productora de Comunicación Social,
uma organização de propaganda
anarquista dedicada à difusão das
ideias e práticas libertárias do Chile.
Os filmes e documentários apresen-
tados versaram sobre uma diversi-
dade de temas como: Utopia, Revo-
lução Espanhola, Militância Anar-
quista, Sexualidade, Poder e Autori-
dade, entre outros.
A caminhada ou a trilha pedestre
foi também contemplada no progra-
ma deste Encontro. Assim foi reali-
zado um percurso a pé designado
por “No rastro da Federação do Ju-
ra...”, através do qual conhecemos
espaços físicos emblemáticos como
o Hotel da vila em St. Imier, o Café
restaurante de la Balance e o café la
Clef em Sonvillier bem como infor-
mações sobre a formação da Fede-
ração Anarquista do Jura e do con-
tributo de Bakunine, na medida em
que ele esteve exilado na Suíça e vi-
veu em Sonvillier durante algum
tempo.
À noite, nos momentos mais
descontraídos, companheiros e
companheiras dos cinco continentes
juntavamse para acompanhar a As
sociação Cultural Voci di Mezzo,
cantando em conjunto canções li-
bertárias num momento de convi-
vência e partilha profunda dos nos-
sos ideais.
Saudamos os esforços individu-
ais e colectivos que tornaram possí-
vel este encontro, que é a prova in-
questionável de que hoje em dia o
anarquismo continua a ser, não só
uma política e uma ideologia mas
também uma prática e uma forma
de ser e agir cada vez mais impres-
cindível.
Janeiro 2013
Anita N.
Lena
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