(pt) Brazil, Sobre a Venezuela e ante a morte de Hugo Chávez: Seguir criando Poder Popular!!!,by rusgalibertaria/MT - CAB (en)
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Sábado, 9 de Março de 2013 - 20:44:03 CET
Sua repercussão na América Latina e no mundo. ---- Uma forte comoção passeou pelo mundo,
pois morre um governante e militante de características singulares. Bastante
controvertido, polêmico e polemista, de afirmações políticas vigorosas, criativo,
incansável no seu dizer e propor, de potente carisma. Trouxe para a cena social política o
nome do socialismo quando já poucos ou quase ninguém, a nível de governos em uma estrutura
capitalista, fazia menção a tal nome, muito menos depois da queda do chamado socialismo
real. Com Marx e Deus na sua boca lançou um socialismo original do século XXI. Ainda se
discute qual conteúdo possui tal conceito. Estava então, como segue estando, no trono da
infamia, o modelo neoliberal. Seu fazer político o marcou com um selo muito pessoal.
Governante paternalista, personalista, autoritário, foram as definições mais frequentes
que usou-se para o seu acionar. Criou mística e esperança na maior parte do seu povo e
também, em parte, de outros povos da América Latina. Gritou energicamente forte, com
algumas contradições, o seu anti-imperialismo, sobre a grande pátria latino-americana, da
independência, sobre o Poder Popular criado fundamentalmente a partir de cima. Teceu desde
seu governo, com o suficiente da sua marca, as relações políticas com vários governos ao
redor do mundo. Fez uma política de solidariedade com os países latino-americanos e até
mesmo para além desta área: venda de petróleo em condições favoráveis, e outros tipos de
ajuda, por exemplo, para recuperação de indústrias que levariam os trabalhadores, como no
nosso país. Assim como, da mesma forma, propôs e perseverou na construção de novas
organizações na América Latina fundamentando de que, com isso resultaria em mais
independência, que pudesse trazer melhorias significativas para a qualidade de vida das
pessoas.
É um fato que está em vista de sua figura está dimensionada de modo que hoje move
multidões em seu país e diferentes expressões e manifestações em nossa América Latina e
diversos países do mundo. Só a prova de exemplo, vamos dizer que o Irã declara um dia de
luto, Argentina, Equador e Brasil três dias de luto, e moradores da Rússia carregam flores
para a porta da Embaixada da Venezuela. Há notas expressando tristeza e dor, desde o
Vaticano até a China. Sua morte se torna um evento incomum.
Dor de povo, dor que dói.
Nesse povo numeroso que sai às ruas na Venezuela há expressão dor, sensação de perda de
algo querido. Ao mesmo tempo, no interior da dor acentuada, marca que há um caminho à
frente a seguir, que ficou uma linha traçada. Assim o vivem, o sentem e o dizem. “Hoje, o
nosso dever é continuar ainda mais fundo com o socialismo, com a luta do projeto que o
comandante nos deu”, responde um estrevistado a um repórter ao passo. Outros dizem coisas
semelhantes e luta e socialismo mencionados novamente e novamente. Qual subjetividade se
produziu nesta experiência social aos de baixo? Difícil de responder rapidamente e menos
hoje. Se vive na dimensão da emoção, da angústia, do sentimento agredido. Também rebeldia.
O que trouxeram estes ventos tão fluidos, tão contraditórios, com esperança, para amplos
setores dos de baixo reais? Local onde houve um apoio mais amplo para Hugo Chávez. Que
elementos ideológicos se produziram? Como esses elementos se expressarão no amanhã próximo?
É justamente ali, no povo, nos de baixo propriamente dito, onde reside na Venezuela e em
todos os lugares, a esperança de início de processos para um amanhã melhor, justo e de
solidário.
O anarquismo histórico ombro a ombro com o povo
A FAU é fortemente uma herdeira daquele anarquismo que os imigrantes trouxeram para estas
terras. Daqueles semeadores que colocavam tudo para mudar esse sistema brutal, injusto até
a demência. Diziam de modo direto nas publicações da época, que nada podia se esperar a
partir desta burguesia cruel e exploradora, pois tínhamos que lutar por outra sociedade. O
que eles diziam levavam-no à prática. Lá se encontravam metidos até os ombros dentro do
seio daquele povo ao que sentiam pertencer. Eles não tinham nenhuma dúvida de que era o
seu lugar. A sensibilidade social daqueles militantes libertários que vinham de diferentes
partes da Europa lhes perimitiram tomar contato rápido com o sentimento, com todo o
imaginário daqueles “nacionais”, que nunca tinham ouvido falar em sindicatos, muito menos
em socialismo libertário ou anarquismo. Mas bem tinham como referentes caudilhos políticos
e partidos criados descaradamente para manter privilégios. Na vida cotidiana, vivendo com
os mesmos problemas de seu povo, sofrendo aquela superexploração, dando, de fato, um
exemplo de companheirismo, oferecendo coisas como o desejo de tecer com colegas de
trabalho a sensibilidade espremida, foram criando os primeiros sindicatos, explicando que
poderia ser alcançado um mundo melhor, que se devia lutar para arrancar dignas condições
de existência e da preparação de um amanhã próprio. Depois, nos sindicatos se ensinava a
leitura e a escrita, havia palestras sobre vários temas, se formavam temas dramáticos, se
levantavam panelas solidárias durante as greves. Ao fazê-lo, em seguida, nesse amassar dos
sonhos, foi-se construindo um outro sujeito. Não veio só nem dos livros, veio da ação
cotidiana, das práticas que se foram realizando, da participação que estavam levando os
trabalhadores que não conheciam a palavra “sindicato”. É claro que aquela militância
estava inserida profundamente e propunha uma orientação nas tarefas sociais cotidianas.
Propostas que calçavam com aqueles desejos. Mas bem se sabe que desejo não se engravida.
Aquele trabalho diário estava, na verdade, organizando representações, idéias,
comportamentos, produzindo ao mesmo tempo determinadas mudanças no imaginário dos de
baixo. Este foi o caso aqui e, pelo menos, na maioria dos países da América Latina.
Hoje, o imaginário dos de baixo é mais rico, contém muitas experiências-primas e cruas, e
a sua subjetividade é ao mesmo tempo mais complexa. Contém elementos de rebeldia e
compreensão geral da injustiça que o rodeia. E assim, por vezes, ganha as ruas. Além
disso, sempre resulta mais proveitoso que se esteja participando dos eventos sociais do
que esteja em um estado de resignação e alheio ao seu entorno. Como estará o imaginário
dos de baixo na Venezuela, quando muito se falou do Poder Popular, quando muito se falou
sobre o imperialismo, quando certas formas de participação social têm sido eficazes? O que
sabemos é que o quietismo e a resignação não produzem nenhum grau de resistência, a
possibilidade está na ação política social real, por mais contraditória e confuso que seja.
Imperialismo e poder popular
São conceitos, tanto do imperialismo como o do poder popular, que estiveram com freqüencia
nas palestras de Hugo Chávez. Seguem ainda presentes no discurso neste momento nos lábios
de estadistas e militantes populares. O conteúdo e sua implementação são já farinha de
outra história.
Podemos dizer que são muitas as pessoas que queriam passar o horizonte linguístico do
termo imperialismo. Sugerem, às vezes o dizem, que é algo que pertence ao passado do
capitalismo. Sugere-se que, nesta era pós-moderna as relações sociais mudaram com o grau
de tais problemas que já se dissolveram. Se hoje há algo que fica claro é que a existência
de relações de dependência, tudo o que constitui uma política imperial, é um componente
constitutivo do sistema capitalista.
Quem deu por morto ao imperialismo não serve para coveiro. O imperialismo vive e oprime
como nunca. Enquanto isso, os Estados dos países mais industrializados têm aumentado seus
papéis em vários campos. Não é há contradição nisso de que muitos desses países se
encontram no que designam como crise e que estão jogando para o desemprego milhões de
trabalhadores.
É verdade, hoje, há outra forma de capitalismo de Estado, não deixou de se ocupar de
algumas funções anteriores e se ocupou de outras que considera estratégicas para esta
etapa. Uma etapa onde o feroz capital financeiro viaja o mundo deixando o rastro de miséria.
Capital financeiro internacional que diariamente se cruza com a esfera política e
ideológica. Os banqueiros não têm dificuldade em pagar os bilhões de dólares que eles
mesmos roubaram. As estruturas: econômicas, jurídico-políticas e ideológico-culturais
revestem hoje uma articulação muito específica. Para isso deve-se acrescentar o uso muito
importante da tecnologia da informação para o benefício dos poderosos. Tudo isto interessa
aos efeitos de recolocar os temas do presente, os processos em curso, o estado atual da
estrutura imperialista.
Não há dúvida de que devemos continuar falando sobre imperialismo. Mas não perdemos a
perspectiva, programas táticos a parte, de que consequente anti-imperialismo deva ser
anticapitalista.
O bloco imperial, apesar da sua situação interna, continuou operando a todo momento. Nem
na América Latina ou em outras partes do mundo. Seguem tentando hoje subordinar seus
projetos em todo o Sul. Há ataques e campanhas que vão desde sutis a grotescas, sobre cada
país que tenta algum grau mínimo de independência política. Em termos de nossa América a
penetração imperial está em várias pontas. No econômico, eles conhecidos por tratados, tal
a Alca na etapa anterior e, em seguida, para a resistência oferecida, são populares como
substitutos, o TLC e TIFA. Militarmente são as várias políticas do Comando Sul.
Ideologicamente, instrumento de primeira ordem para estruturar toda a política, há
produção de “teorias” gerais e parciais para justificar todas as suas ações. O pensamento
único está composto por uma grande variedade de discursos que abrangem vários domínios.
Ao contrário do que a mídia diz, os EUA introduziram e continuam colocando bases na
América Latina, com a Amazônia e o Brasil cercados, financiam a repressão e o tráfico de
drogas no Plano Colômbia e, mais recentemente, em sua penetração no México; sempre
latentes estão os “clássicos” golpes da CIA e suas políticas desestabilizadoras. Somemos
as guerras, intervenções militares, massacres.
Descontamos a intervenção tradicional do FMI, Banco Mundial, a ex-Organização Mundial do
Comércio e o BID. Os projetos globais e todos esses mecanismos de prisão e predação.
Sabemos que é impossível separar a estrutura imperialista e os interesses das
transnacionais das suas matrizes. Assim estamos em um momento histórico onde as 500
maiores empresas do mundo controlam 80% da circulação da riqueza, bens e serviços. E
dentro dos serviços nós colocamos a informática que é bem conhecido, na forma como é
utilizada, o serviço singular e implacável que proporciona a toda a política de dominação,
com a constante criação de novos mecanismos e símbolos.
A propósito da Venezuela, algo sobre a América Latina hoje
Antes da implantação desta nova fase do capitalismo e das suas brutais e sistemáticas
práticas imperiais relacionadas com isso, não se pode dizer que os povos têm estado
tranquilos. Apenas mencionaremos de passagem e, genericamente, a chamada “Primavera
Árabe”, as revoltas populares, como na Grécia, Portugal, Espanha e mesmo até nos EUA.
Mas queremos enfatizar nossa área. Resumidamente lembraremos da resistência na nossa
América Latina na última década, onde, sob diferentes condições sociais e econômicas, em
curto espaço de tempo, o povo do Equador, Peru, Bolívia, Argentina, México e Venezuela,
protagonizaram confrontos violentos, muitas vezes desesperados , quebrando o circuito da
miséria e da injustiça brutal que os aprisionava em um nível elevado. Filha da situação da
política neoliberal feroz neste último período. O Caracazo foi quase um precursor destas
revoltas populares.
Com diferentes graus de intensidade, o questionamento de tal situação foi se tornando em
escolha urgente de luta. Uma luta não orientada geralmente, por aparelhos políticos
tradicionais da esquerda, mas do tipo da ação direta popular. Governos caíram, outros
tiveram que repensar a sua continuidade de projeto para apaziguar a raiva e tentar não
mudar nada de substância. Assim, apesar da cumplicidade de governos na América Latina com
a continuidade dos projetos imperiais, continuidade que assumiu várias formas e graus, o
cenário político do continente ficou um pouco revolto. No entanto, pode-se observar que
após a substituição “progressista”, realizada em vários países, em muitos deles, não houve
alterações relevantes nos fundamentos da política interna ou da estrutura de dependência.
É claro que não queremos dizer com isso que todas as coisas seguem iguais, seria de pouco
rigor. Há um certo número de elementos que compõem uma conjuntura política distinta. Há
registros de que existem tentativas de criar estruturas e instituições na América Latina
que limitem essa dependência assim como há reformismo forte em países como Bolívia,
Venezuela e Equador. Enquanto que, um conjunto de fatores internacionais trouxeram alguns
efeitos positivos para a economia da maioria dos nossos países. Definitivamente são
questões que merecem um tratamento mais profundo que hoje o deixamos por aqui.
Poder Popular
Nestes anos, especialmente aqueles de baixo da alça da Venezuela, estavam-se desenvolvendo
uma série de atividades populares. Isso foi tomando formas organizacionais: coletivos,
conselhos comunais, comunas, etc. Isto, como um todo, foi chamado de Poder Popular. A
burocracia partidária foi crescendo em interferência e cada vez mais substituindo os
autênticos representantes destas formações populares. Havia, e ainda continuam havendo
protestos de coletivos e comunas que reivindicam autonomia e que ganhos obtidos tenham
efeito. Nós temos a recente situação dramática das reivindicações indígenas para as suas
terras e que resultaram no assassinato vil do militante Sabino Romero feito por contratados.
Aliás, sabemos que o movimento bolivariano não é algo homogêneo, e sua composição é
fluida. Diferentes abordagens políticas e ideológicas não são escassas. Em um momento de
descontentamento dos de baixo, aqueles que trabalham em organizações sociais em
comunidades, que rejeitavam o controle crescente da burocracia partidária, e que em um
evento popular, Hugo Chávez fazia a leitura de uma carta de Kropotkin a Lênin. Sua maior
área de apoio estava sendo afectada pelo comportamento burocrático. Nesta oportunidade
apela para enfatizar uma prática de Poder Popular diferente. Vejamos.
Hugo Chávez diz: “Parece-me vital tomar isso como uma referência ao que aconteceu na União
Soviética que só começava a Revolução Russa.” Começa a ler a carta:
“Sem a participação das forças locais, sem uma organização a partir dos de baixo dos
trabalhadores e camponeses, se é impossível construir uma nova vida por eles mesmos.
Parecia que os soviets serviriam justamente para cumprir a função de criar uma organização
desde baixo. Mas a Rússia tornou-se uma República Soviética, só de nome (comenta: 1920,
isso começou mal, não?) A influência dirigente do “partido” sobre as pessoas (acrescenta:
“partido entre aspas, partido falso”), que consiste de recém-chegados, porque os ideólogos
comunistas, estão, principalmente, nas grandes cidades, já destruiram a influência e
energia construtiva que os soviets tinham, no momento atual, são os comitês do partido e
não os soviets que carregam a direção na Rússia e sua organização sofre os efeitos de toda
organização burocrática. Para sair desta confusão a Rússia deve retomar todo o gênio
criativo das forças locais, em cada comunidade, o que a meu ver, podem ser um fator na
construção da nova vida, e quanto mais cedo a necessidade de retomar o caminho, quanto
melhor será. As pessoas então estarão prontas e dispostas a aceitar novas formas sociais
de vida, se a situação atual continuar, mesmo a palavra ‘socialismo’ será transformada em
uma maldição.” “Temos que olhar para isso”, diz ele em tom de forte crítica da sua militância.
O empoderamento do povo, o Poder Popular é sem dúvida, com uma consequente prática um
fator político de primeira ordem. Para encarar adequadamente política e teoricamente esse
conceito, que rapidamente definimos como a capacidade de uma força político-social de
realizar seu projeto, há questões de caráter estratégico e teórico que devemos considerar.
Hoje faremos de forma breve e para uma situação específica que se está chamando.
Diferentes abordagens e orientações podem surgir a partir de tal conceito de Poder
Popular. Por exemplo, existe toda uma conceituação em torno do conceito de vanguarda que
pode fazer com que práticas opostas ao que se tenta, ponham-se em ação. O conceito de
vanguarda que foi todo um paradigma para quase um século. Na verdade, este conceito nos
indica o critério de que deve haver uma única direção: do partido para a classe e toda à
população. Hoje seria de, pelo menos em alguns lugares, do partido para o movimento
popular. Contém a crença de que a população, o sujeito histórico estabelecido, já seja
classe, ou movimento popular, deve permanecer subordinado ao Partido. De que a “massa”
operária ou popular, em geral, sozinha é incapaz de criar instâncias de deliberação. Além
disso, também a crença de que no seio da sociedade capitalista não pode ser gerada a
partir de baixo, condições básicas para a sua dissolução. Muito não importa, então, com
essa concepção, o grau de desenvolvimento da auto-organização, de auto-gestão, de
instâncias contínuas de participação popular. Não se trata, no fundo, de criar um povo
forte, senão um partido forte. Reducionismo político total, filho, por outro lado de toda
uma concepção geral reducionista.
Uma ideología para o Poder Popular
Se trata de apostar a um processo que produza uma ideologia de ruptura. Ela articulada com
a prática política nesse sentido.
E a ideologia não vem de fora, ocorre no coração das práticas, idéias e comportamentos que
o povo vai realizando através dos seus vários enfrentamentos. A produção de uma nova
tecnologia sócio-política e “discursos de saber” correspondentes à libertação não podem
ocorrer sem deslocar aos que fazem a dominação. É tarefa política de desconstrução. São
discursos que devem entrar em confronto e que devem regar todos os casos em que o povo
protagonize lutas de resistência.
Uma estratégia de Poder Popular não é uma enteléquia, ou algo que vem com o feitiço certo.
Não é um ato isolado. Requer a modificação de práticas, de ruptura, de descontinuidade, em
áreas como o econômico, o ideológico, o político-jurídico, o cultura geral. É estar
batendo e quebrando esta vasta rede de dominação. Todas essas idéias se concretizam em um
processo com participação ativa popular. Um povo, que compondríamos como um amplo espectro
dos oprimidos e explorados, nesta fase, designamos como conjunto histórico de Classes
Oprimidas. Um povo que sofre, dentro das mudanças estruturais, uma fragmentação de
importância que deve ser superada. Onde novas estruturas de dominação têm sido
desenvolvidas e surgidas em outros lugares do que àquelas tradicionais. Necessário,
indispensável, construir laços de solidariedade que vinculem, que façam com que a unidade
das suas lutas constituam uma base de primeira ordem para que conformem uma força social
capaz de dar confrontamentos efetivos e dar passos em qualidade. Nós não estamos falando
de gradualismo, nem linearidade ou de tomar os inimigos um por um. Estamos falando de
oporem-se sistematicamente, estrategicamente, um universo que inclui a nova realidade
histórica, as mudanças que foram surgindo em processos complexos. A nova militância que
esta situação impõe.
Nossa América Latina teve na última década, por exemplo, várias experiências de luta. Ela
enriqueceu seu quintal ideológico.
Em certos momentos históricos se produzem com peso um conjunto integrado de idéias,
representações, noções no interior do imaginário dos diferentes sujeitos sociais. É este
conjunto articulado de caráter imaginário, e que toma a forma de “certezas” que é
defendido pelos mesmos sujeitos sociais. Isto é o que pode transformar estes sujeitos em
protagonistas de sua própria história ou em sujeitos passivos e/ou disciplinados pelas
forças dominantes ou por estratégias equivocadas que o pedem quietude, silêncio, “disciplina”.
Assim, a ideologia tem a ver diretamente com a constituição histórica dos sujeitos
sociais, e com a forma como estes se expressam na sociedade. É algo muito diferente da
noção de que a ideologia é a falsificação da realidade, precisamente porque ela é um dos
componentes fundamentais de qualquer realidade social.
A ideologia tem na sua constituição elementos de natureza não-científica e que contribuem
para aumentar a ação, motivando-a com base a circunstâncias que não derivam estritamente
delas. A ideologia está condicionada pelas condições históricas, mas não determinados por
elas mecanicamente.
Nesta relação entre a ideologia ea produção de sujeitos históricos, relação que se não
existisse, não haveria nem ideologia nem sujeito, é que vai moldando-se os momentos de
vigência ideológicas. Bem como, os sujeitos/agentes históricos se expandem e levam a
hegemonia dos corpos sociais, a partir da vigência das ideologias.
Estes momentos podem ser expandidos chegando a se totalizarem, em outros momentos as
ideologias se sobrepõem na mesma sociedade ou ficam vivendo em áreas isoladas. Frente ao
fruto da fragmentação neoliberal, quebrar o isolamento de representações ideológicas com
potencial emancipador é tarefa permanente de uma organização política com intenções de
mudança.
Assim podemos concluir a importância da luta ideológica, presentes principalmente em
tempos históricos atuais no nosso continente. Onde a operação da ideologia neoliberal, com
todos os meios operacionais informáticos funcionando; o que dá a curva à direita das
esquerdas institucionais que vão cada vez mais inserindo-se no sistema.
Em suma, uma concepção e uma prática do Poder Popular tem a sua produção específica, tem o
seu próprio universo. Ele tem a sua própria produção. Para jogar como uma força
transformadora, condicionante de conjunturas, produzindo progressos desestruturantes há
uma condição necessária: deve sempre manter sua independência. “A independência de classe”
se dizia em outros momentos do desenvolvimento histórico, hoje diríamos, ajustando ao novo
contexto: a independência das classes oprimidas, isto é, de todos os movimentos populares.
Mas queremos salientar que, apontando esta categoria, em especial tendo em conta as
características particulares de cada formação social, sua história, suas transformações,
sem negligenciar o que tem de comum com outros países, principalmente na área e,
obviamente, as condicionantes que globais estruturas de poder estabelecem.
É bem sabido, as malhas de podera dominante esmagam, manipulam, moldam. Inserem em seu
seio, partidos, ideologias, movimentos, histórias, os amassam e depois os devolvem como
bons seguidores do antigo e reprodutores do atual. O mecanismo se repete uma e outra vez.
E muitas são reiteradas como forças incomensuráveis girando nessa roda louca. Nestes
dispositivos é que temos que atirar com propostas e ações de conteúdos diferentes. Com uma
coerência que permita pisar firme.
Está a mais notar que a circulação infinita das mesmas dinâmicas e lógicas não podem criar
algo novo, apenas recriar o existente, com menor ou maior fantasia.
Para permitir que outras relações sociais, os fatos parecem indicar a necessidade de usar
outros materiais para a nova construção. Uma outra abordagem, outra perspectiva, outra
lógica, outras práticas, outros mecanismos. Outro ponto de partida. Nada original, é a
nova civilização que elaboraram os socialistas antigos. Esse processo deve descansar e
implantar-se em uma feroz independência das classes oprimidas. De um povo construindo seu
destino no ritmo que permitem as condições históricas. As armadilhas, as relações, as
próprias alianças tácitas e explícitas devem ser feitas a partir dessa perspectiva de
independência. Uma vez que não pode ser isolado, como deve se estar no meio do povo e nos
eventos sociais complexos e variáveis, esse fator adquire uma importância de caráter
estratégico de primeira ordem.
Diante de todas essas mudanças e perdas sociais, contra a cultura que proclama o fim das
ideologias e da história, declarando o capitalismo e suas instituições como a única
realidade possível, é que atualmente a luta ideológica ganha dimensões estratégicas para a
produção de um novo sujeito histórico, capaz de enfrentar tais concepções dominantes com
base na ação direta. A partir da ideologia, do poder das ideias, é que se pode mobilizar
os corações e razões, coletivamente, articulando-os em uma expressão de resistência e
progresso na medida que convoca diferentes sujeitos sociais e os transforma em agentes
capazes de reescrever a história e conceber um mundo novo. Tudo isso articulado na
expressão política subsequente.
Inseridos em nosso povo, vivendo seus problemas cotidianos, com esperança e ferramentas
eficazes iremos construindo crescentes espaços de socialismo e liberdade.
Arriba los que luchan, sempre.
6 de marzo de 2013
Fonte do texto traduzido: http://www.cabn.libertar.org/?p=879
Texto original da FAU:
http://federacionanarquistauruguaya.com.uy/2013/03/07/sobre-venezuela-y-ante-la-muerte-de-hugo-chavez-seguir-creando-un-pueblo-fuerte/
55-años-comienzo FA
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