(pt) O enredo de uma farsa! A tentativa de criminalização da Federação Anarquista Gaúcha (en)
a-infos-pt ainfos.ca
a-infos-pt ainfos.ca
Domingo, 23 de Junho de 2013 - 23:39:15 CEST
Na tarde de quinta feira (20/06/2013), antecedendo o protesto que já se previa
multitudinário na capital gaúcha, ocorreu a invasão mediante arrombamento do Ateneu
Libertário A Batalha da Várzea, executado por agentes policiais sem identificação. Devido
a isto, no comunicado da madrugada de sexta-feira, dia 21 de junho, informamos que a
invasão havia sido realizada pela Polícia Federal, afinal de contas assim se apresentaram
os agentes da repressão. ---- Através da coletiva concedida pela cúpula da Segurança
Pública do governo do RS, na tarde da sexta-feira, dia 21 de junho tivemos a informação
que tal operação foi realizada de fato por agentes da Polícia Civil, omitindo-se o fato de
que a operação se deu de forma ilegal, sem o correspondente mandato judicial, conforme o
apurado pela assessoria jurídica que nos apóia nesse momento, de forma solidária.
Esta coletiva de imprensa portanto não poderia anunciar outra coisa se não uma farsa,na
busca de um bode expiatório para responsabilizar pelas manifestações de violência
ocorridas nos protestos de forma generalizante, acusando que todos os atos de depredações
e “vandalismos” fossem de responsabilidade dos anarquistas presentes nos protestos e
especificamente dessa organização política, como já dito anarquista.
O fantasma atemorizante criado nas redações da RBS: a presença de bandeiras anarquistas,
grupos e indivíduos punks e o já folclórico devaneio do âncora da RBS Lasier Martins
“mascarados anarquistas” deram a tônica da conspiração em curso. Apresentaram-se “provas”,
segundo a polícia nessa operação ilegal, de materiais para confecções de coqueteis
molotovs e um mapa com a identificação de órgãos de segurança do Estado, com o quê buscam
afirmar que planejávamos desatar ataques.
Além de tais objetos plantados, a coletiva para a mídia corporativa retira a sua máscara e
demonstra a farsa em curso, o real objetivo da operação. Segundo o próprio chefe da
Polícia Civil, o delegado Ranolfo Vieira Jr. “é importante dizer que nesse local também
foi apreendido vasta literatura, eu diria assim, a respeito de movimentos anarquistas.”
Considerando que os geniais homens da “inteligência” invadiram uma biblioteca libertária,
é natural que achem livros senhores Ranolfo e Tarso Genro. Não sabíamos que uma literatura
anarquista, tanto atual como histórica, constitui prova de crime. Desde quando livros
estão proibidos em nosso estado? Sim, isto é verdade, levaram muitos livros e o fichário
dos usuários da biblioteca do Ateneo, dos quais exigimos a restituição em nossas prateleiras.
Dentre os “perigosos” livros apreendidos, consta a obra Os Anarquistas no Rio Grande do
Sul, de João Batista Marçal. O livro foi editado com apoio da Secretaria de Cultura de
Porto Alegre no ano de 1995, justo no período em que Tarso Genro era prefeito! Quem faz a
introdução é Luiz Pilla Vares e a apresentação é de Olívio Dutra. Ou seja, se publicar
livros anarquistas é crime ou ato suspeito, o atual governador já ajudou nesta ação
“perigosa”.
Voltou a Censura no Brasil? Ou só no Rio Grande do Sul? O Ateneo Libertário A Batalha da
Várzea localizado na Travessa dos Venezianos é um espaço público, de fato uma biblioteca,
como já dito, na qual se organizam várias atividades políticas e culturais, em muitas
delas inclusive com a participação da vizinhança local. Usamos também instrumentos
musicais, teatro, tintas, pincéis, sprays para expressar através das artes nossas críticas
e nossos anseios, enfim nossa ideologia. Quando nos apropriamos de palavras, as usamos
para expressar idéias, estas armas perigosíssimas!. Quando tornaram-se criminosas as
idéias dissonantes do status quo?
Além dos “perigosos” livros, a repressão política do RS afirma ter encontrado material
inflamável. Sabemos que qualquer objeto além de um botijão de gás foi plantado com o
objetivo de incriminar e isolar, a partir da repressão e da guerra psicológica, nossa
corrente libertária e combativa, do atual cenário político. Começou com os factóides
plantados pela RBS, onde aparecíamos como elementos “sociopatas” que planejam desatar
inúmeras operações de guerrilha na cidade. Ora, precisamos de gás para aquecer a água pro
mate.
Quanto ao mapa citado pelos chefes do aparato repressivo do estado, sob responsabilidade
do governador, afirmamos aqui com veemência que não sabemos do que se trata, considerando
ser essa operação ilegal, não há dificuldades em supor que seja algo “implantado” numa
tentativa clara de nos criminalizar.
Reconhecemos sim e muito bem outro mapa, o da cidade de Porto Alegre, sua periferia e
centro, porquê é aqui que vivemos e lutamos junto aos diversos setores das classes
oprimidas, organizados ou não, socialistas ou não, enfim, o povo organizado contra a
dominação e por melhorias nos serviços públicos e contra as retiradas de direitos
conquistados pela luta popular em curso, com suas vitórias e derrotas há mais de um
século. Aqui estamos há 18 anos, de forma pública, com bandeira, endereço e publicações
tanto impressas como virtuais.
Participamos dos movimentos populares, estudantil, sindical, comunitário, nas rádios
comunitárias, no bloco de lutas pelo transporte público, enfim, nas lutas sociais que
somos chamados a pelear ou solidarizarmos. Já somos conhecidos sim, pelas policias, pelos
movimentos sociais também pelos partidos políticos, inclusive por vários setores do PT e
demais que compõem a base do atual governo de turno no RS porque de fato existimos e nunca
nos furtamos a pelear.
Logo após a divulgação da operação da Polícia Civil o governador Tarso Genro se apressou a
nos atacar da forma mais vil e covarde possível. Ansioso por nos golpear, Tarso nos
associou ao fascismo, conclamando as organizações da esquerda a reverem suas políticas de
aliança de forma a nos isolar. “— Todos os partidos e pessoas, inclusive os de
ultra-esquerda, tem de ajudar a combater isso. Ninguém sobrevive a isso. Todos sucumbem. O
caminho é aquele que nós já conhecemos e causou a Segunda Guerra Mundial” Assim se
pronunciou o histórico dirigente do PT e governador do Estado Tarso Genro. Aliás, assim se
pronunciou o ex-dirigente do Partido Revolucionário Comunista (PRC), irmão de um dos
maiores teóricos marxistas do Brasil (Adelmo Genro Filho) e ele mesmo um ex-militante com
dezenas de conflitos contra a repressão. Mas isso foi no século passado, não é governador?
Diante da absurda acusação de que somos fascistas, sugerimos aos assessores do palácio e
aos agentes dos serviços de inteligência uma rápida pesquisa sobre as inconformidades
ideológicas e históricas do que afirma o governador, pois historicamente combatemos o
fascismo, existem correntes libertárias que dedicam-se exclusivamente a isto, sobretudo na
Europa. Aos senhores jornalistas, lhes sugerimos ainda uma pesquisa sobre a resistência ao
fascismo na Espanha e França no contexto da ascenção de Hittler e Mussolini sobre a Europa
assim como sobre o episodio de 07 outubro de 1934, na Praça da Sé, em São Paulo, quando a
épica coluna operária, formada sobretudo por anarquistas deu combate aos integralistas de
Plínio Salgado da AIB (Ação Integralista Brasileira), no fato conhecido como “ a revoada
das galinhas verdes”. Fomos e seremos sempre os primeiros nas fileiras de combate a
qualquer forma de totalitarismo, sejam eles stalinistas, fascistas ou de qualquer outra
natureza. Ser anarquista não é crime.
Já que o senhor Tarso se demonstra tão preocupado com o avanço do fascismo, lhe indagamos:
Organizar uma biblioteca pública com foco em literatura anarquista e obras diversas é um
crime? Se nossos livros estão sendo apresentados como provas de crime segundo as
declarações da cúpula de segurança pública, o que pretendem o senhor Tarso e demais
autoridades do estado com isso? Vão fazer como os fascistas e queimar nossos livros em
praça pública? Proibir a impressão e venda de títulos relacionados ao anarquismo? Realizar
incursões em residências a busca destes títulos, dado o caráter “inflamável” de tal
literatura?
Reconsidere suas palavras senhor Tarso, pois são estas operações policiais, sob sua
responsabilidade, que afinal se mostram vinculadas a uma prática de perseguição de idéias
libertárias, portanto terminam por apoiar práticas que cheiram fascismo. Lembramos ainda
que há sim grupos nazistas em Porto Alegre, os quais estavam armados com facas no último
protesto do dia 20 de Junho, circulando livremente sem a correspondente repressão que nos
dedicam, procurando os anarquistas da FAG. O que lhes parece que queriam, seguramente não
era pra debater a conjuntura não é? Quanto a isto o que farão os responsáveis pela
segurança pública. Livros não são crime!
Sabemos que a meta do governo estadual é política. O objetivo de toda essa guerra
psicológica é semear pânico, isolar-nos do cenário e assim pavimentar o caminho para a
sanha repressiva em direção de nossa organização e seus militantes.
Por fim, reafirmamos que não iremos nos dobrar a mais essa investida. Desde o início do
ano estamos sendo alvejados pela repressão, ainda que até então ela não tenha nos atingido
com tamanha intensidade. No início de abril, logo após um massivo ato contra o criminoso
aumento das passagens de ônibus, que reuniu mais de 10 mil pessoas nas ruas de Porto
Alegre, tivemos nosso site retirado do ar. Na verdade, o domínio www.vermelhoenegro.org
simplesmente sumiu, assim como seus domínios espelhos. Esta censura que segue vigente,
fazendo com que encontremos espaços alternativos para divulgar nossas opiniões.
Situação semelhante também ocorreu em novembro de 2009, quando nossa antiga sede foi
invadida pela mesma Polícia Civil, a mando do então governo Yeda Crusius (PSDB) em função
de um cartaz onde responsabilizávamos politicamente a governadora e o oficial da Brigada
Militar no comando do campo de operações pelo assassinato do colono Elton Brum da Silva,
em 21/08/2009. O militante sem terra foi morto a sangue frio e a queima roupa por um tiro
de calibre 12, enquanto protegia as crianças em uma desocupação de terra na campanha de
São Gabriel. Naquela ocasião, por fazermos a denuncia e darmos solidariedade também
tivemos nosso site censurado e ainda hoje 06 companheiros/as de nossa organização seguem
respondendo processo judicial, no qual seguimos reafirmando que Yeda e o comando da BM
foram os responsáveis diretos pelo assassinato de Elthon Brum!
Assim como não nos dobramos a repressão vil do governo Yeda, tampouco iremos nos dobrar a
repressão do governo Tarso, que busca isolar a esquerda combativa de forma a atacá-la com
maior contundência sob os aplausos e gargalhadas dos setores mais reacionários de nosso
Estado e país. Tarso, ex-comunista, ex-dirigente revolucionário, mudou de lado e hoje é
uma caricatura torta do militante que pretendia ser nos anos ’70 do século passado. Hoje
se porta de maneira servil diante da RBS. Para “defender” o papel simbólico da empresa
líder na comunicação social, orienta a Brigada Militar a atacar os manifestantes quando
passam do outro lado do Arroio Dilúvio, em uma avenida de seis pistas! Não foram os
anarquistas que lideraram a linha de frente da marcha da ultima quinta feira em direção a
ZH. Choveu bombas de gás e balas de borrachas sobre as cabeças com caras pintadas de verde
e amarelo e flores nas mãos. A imagens dos protestos da última semana em Porto Alegre têm
a marca das bombas da BM lançadas contra o povo ordeiramente em marcha na direção da Zero
Hora.
Enfim, esse é o caminho pelo qual trilham, invariavelmente, as políticas de pacto social.
A história já nos demonstrou de forma clara, basta olharmos a social democracia alemã e
sua caça aos conselhos operários sob influência dos então spartarkistas, delegados
revolucionários e também de muitos anarquistas. Caçada essa que levou a ostensiva
perseguição de valorosos militantes da classe trabalhadora alemã, como Rosa Luxemburgo,
Karl Liebknecht e Gustav Landauer, este último militante de nossa corrente anarquista.
Todos eles presos e assassinados a coronhadas pelas forças de repressão da social
democracia. Todos estes militantes serviram de bode expiatório para as políticas de
conciliação de classe, que, somadas com a inércia decisória, levaram ao caos e ao
nazi-fascismo. Governador, conforme foi dito, se nós estivéssemos à beira da 2ª Guerra
Mundial, seríamos milicianos espanhóis, resistentes franceses ou partigianos italianos. Já
o senhor, de que lado estaria? De que lado está agora?
A FAG, com 18 anos de história e vida pública e permanente atuação em diversas das lutas
sociais em nosso estado e país, é parte de um legado histórico de uma corrente que há
quase dois séculos levou às últimas conseqüências o combate a reação, as classes
dominantes e seu Estado lacaio. Sim temos relações internacionais e estas surgiram em
1864, na 1ª Associação Internacional dos Trabalhadores, AIT. Todas as correntes do
socialismo têm relações com agrupações afins em diversos países. Todas as vertentes do
socialismo são internacionalistas, ou o ex-dirigente do PRC também considera isso um
crime? Se hoje no país os trabalhadores têm assegurados alguns direitos, estes são fruto
de 40 anos de luta sindical antes de 1932. Esta luta era mobilizada por sindicatos livres,
desvinculados de partidos políticos, e os organizadores eram militantes anarquistas. O
anarquismo é parte da luta popular no Brasil e no Rio Grande do Sul e continuará sendo.
Nossa organização ajuda a organizar a luta pelo direito à mobilidade urbana, pelo passe
livre e redução dos preços das passagens. Somos parte integrante do Bloco de Luta pelo
Transporte Público desde sua fundação, assim como militamos e participamos em diversas
frentes de lutas sociais, como Movimento Sem Terra, Rádios Comunitárias, Sindicatos,
Movimentos Estudantis, de Luta pela Moradia, Comunitário, somos linha de frente na luta
pela diversidade e desde o começo nos Comitês Populares da Copa.
A nossa história, “excelentíssimas autoridades” é escrita com o sangue e suor das
barricadas dos oprimidos e assim sempre será. Vossa sanha repressiva nunca será capaz de
nos calar. Não tememos as hienas e nem a fábrica de mentiras da RBS! A verdade fala mais
alto entre os militantes do povo. Somos militantes de esquerda não parlamentar, militantes
populares e não terroristas. Terrorista é quem joga bombas contra dezenas de milhares de
pessoas caminhando desarmadas. Tarso Genro, RBS e oligarquia gaúcha, sua campanha
difamatória tem pernas curtas e a mentira não passará.
Não tá morto quem peleia!
Federação Anarquista Gaúcha, 22 de junho de 2013
More information about the A-infos-pt
mailing list