(pt) Tomar as ruas por uma agenda contra a direita e o governismo. Avançar um programa de soluções populares!
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Sábado, 22 de Junho de 2013 - 10:54:25 CEST
A larga noite das lutas de 17 de junho mudou a conjuntura brasileira e redimensionou os
protestos sociais. A mobilização massiva de cerca de 1 milhão de manifestantes em dezenas
de capitais e cidades do país e do mundo não acontecia em nossa história política desde o
Fora Collor em 1992. Há um antes e um depois que põe na cena nacional um novo sujeito
histórico coletivo que é catalisador de uma poderosa força social nas ruas. ---- Na
gestação dessa nova correlação de forças a luta contra o aumento das tarifas do transporte
coletivo é a expressão mais articulada de uma avalanche de sentimentos e demandas
reprimidas que extrapolam os controles dominantes da sociedade brasileira. Há uma
saturação do modelo capitalista aprofundado nos últimos 10 anos pela versão
neo-desenvolvimentista dos governos do PT.
Esse modelo prometeu um Brasil grande e moderno as custas de uma deterioração brutal do
meio ambiente, dos espaços públicos e das condições de vida do povo trabalhador e da
juventude.
O modelo dominante demandou um pacto social de classes que aumentou o poder dos grandes
capitais sobre as cidades, os bens comuns e as fronteiras agrícolas. Todo o território foi
redesenhado pelas representações do ideal produtivista de um lugar emergente no sistema
mundial do poder e das riquezas. Mega-eventos, obras público-privadas de infra-estrutura,
empresas do agronegócio estampam a ideologia do Brasil em crescimento. O
neo-desenvolvimentismo se deve a uma variação do papel do Estado como fator de crescimento
dos grandes capitais, integração relativa de setores populares e normatização social. Não
quebra as estruturas dominantes do poder, da exploração e das desigualdades sociais, pelo
contrário, a reformula e desata seus mecanismos através de uma ideologia sintonizada com
certos desejos individuais de consumo e prosperidade.
A pretensa inclusão social por meio de bens particulares, associa a felicidade com o
consumo, mas não é capaz de satisfazer demandas coletivas que formam a qualidade de vida
nas cidades. A percepção de dias melhores pelo povo se esvai pelos efeitos insuportáveis
de uma estrutura opressiva da vida social cotidiana. O desenvolvimento urbano acelera a
desapropriação do direito dos setores populares sobre a cidade, restringe os espaços
públicos e a mobilidade, deteriora a saúde e a educação, espalha o trabalho precário e
flexível e negligencia o genocídio da juventude marginalizada das periferias. Para aqueles
que não se integram em suas pautas de conduta e ao mundo da pobreza que não é assimilado
por suas técnicas de poder, erige um Estado penal que abarrota o sistema penitenciário
repleto de pobres e negros. Aos indesejados se desata uma agenda conservadora que reclama
a redução da idade penal e a internação compulsória dos dependentes químicos.
Pelo interior do país este modelo é aplicado com força bruta sobre os direitos indígenas e
quilombolas e contra uma reforma agrária e urbana que quebra os latifúndios revitalizados
pelo agronegócio e a especulação imobiliária. Uma nova etapa da guerra de extermínio dos
povos originários suprime a demarcação de terras e criminaliza a resistência, fazendo
mortos e dizimando culturas.
O caráter nacional das lutas
Essa saturação do modo de vida ganhou expressão conflitiva pelas ruas de todo o país
porque não se viu representada pelas instituições políticas burguesas ou pela voz da
imprensa monopolista. No entanto, se num primeiro momento as mobilizações agitavam
principalmente pautas relativas ao aumento das tarifas do transporte, temos visto serem
agregadas um conjunto de bandeiras e reivindicações que dão contornos policlassistas às
últimas mobilizações e em alguns casos, a exemplo de São Paulo, um caráter conservador e
nacionalista e ufanista.
Nessa conjuntura de massificação das mobilizações, a grande mídia reorientou o seu
discurso e se inicialmente atacava e criminalizava as manifestações, busca agora pautá-las
fazendo um discurso que divide entre o que é o legítimo direito à manifestação e o que são
atos de vandalismo realizados por uma minoria. Dessa forma, sai de cena o caráter
classista e de esquerda das reivindicações por um transporte 100% público e entra em cena
um discurso apolítico e muitas vezes de um nacionalismo extremamente ufanista, onde entram
em cena gritos como o “jingle” da rede globo “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito
amor!”.
Se a direita mais conservadora do país tenta agora surfar na onda que não só não criou,
como fez de tudo para reprimir, logrando já alguns ganhos e com isso semeando uma certa
confusão entre o campo popular e de esquerda, não podemos tirar uma conclusão precipitada
de que essa direita “virou a mesa”. O jogo esta em aberto e cabe ao conjunto da esquerda
classista deste país redobrar os esforços no sentido de capitalizarmos ao máximo o
sentimento de indignação que hoje varre o país. Sem sectarismos e disputas mesquinhas que
levam a calúnia como meio de autoconstrução, urge à esquerda a responsabilidade de cerrar
um punho forte e fazer frente ao inimigo.
Se nos precipitarmos afirmando que a direita “virou o jogo” e/ou ao mesmo tempo não formos
capaz de superar vícios sectários e, em unidade na luta, incidir com uma pauta classista
nesse cenário estaremos, desgraçadamente, entregando o controle das ruas à direita mais
reacionária do país, que busca desatar um “carnaval da reação”, agitando sua pauta que
inclui desde a genérica e oportunista “luta contra a corrupção” (como se este setor não
estivesse inserido na corrupção estrutural que há no país) à redução da maioridade penal,
luta contra as “bolsas miséria” dentre outras reivindicações que agitam seus instrumentos
de luta ideológica, os grandes oligopólios da mídia.
Os limites das ruas e a necessidade de organização desde baixo
A dimensão tomada pelos protestos, aliado ao trabalho que a grande mídia e setores da
direita tem feito para introduzir suas pautas nas mobilizações, mostra os limites que essa
modalidade de luta possui quando não há organização de base que lhe dê sustentação e
retaguarda em períodos de refluxo.
Os setores que vem participando dos protestos são, em sua maioria, de uma geração jovem
que não possui as mesmas referências de organização e de luta daquela geração do final dos
anos 80 e inicio dos anos 90 que lutou pelo fim da ditadura civil-militar e posteriormente
contra o neoliberalismo forjando instrumentos de organização como o PT, a CUT e o MST,
além da reorganização da UNE. Trata-se de uma geração que possui novos referentes, muito
vinculado às redes sociais da internet que acaba sendo o lugar em que despeja as idéias,
as propostas, as críticas e as construções. Nesse contexto, as mobilizações de rua, quando
muito massivas, demonstram limitações que em nossa opinião precisam ser superadas.
Para nós, anarquistas da FAG, se a força das ruas e da ação direta é decisiva ao expressar
o poder dos oprimidos, ela tampouco é suficiente se esses mesmos oprimidos não possuem
instrumentos de luta e de organização em que as pautas expressas nas ruas possam ser
discutidas, elaboradas e coordenadas em outros espaços de organização. Sindicatos,
Entidades Estudantis e Associações de Moradores são exemplos, mas coletivos por local de
trabalho, comitês de discussão sobre temas que nos tocam como transporte, saúde e educação
em bairros, escolas, etc. são outros exemplos de organização que devem ser implementadas
para que as reivindicações que sentimos cotidianamente sejam discutidas, acordadas e
lançadas de forma contundente nas ruas com nossas mobilizações.
Sem esses espaços de base, nos prendemos ao vai e vem da conjuntura, daqueles grupos
organizados que possuem interesses bem definidos e que a todo momento tentarão pautar as
mobilizações e não construiremos um projeto próprio, enquanto oprimidos e que seja capaz
de fazer frente às classes dominantes e seus instrumentos que hoje tentam cooptar as
mobilizações que, com muita força, organização e dedicação conseguimos desatar.
Abrir a caixa preta da patronal do transporte coletivo! Por um modelo 100% público!
Democratização da mídia!
Contra os gastos da Copa. Em defesa de saúde e educação pública e de qualidade. Protesto
não é crime!
Contra o massacre da juventude pobre e negra das periferias!
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