(pt) Uma leitura Socialista Libertária sobre as lutas que eclodem no Brasil (en)
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Sexta-Feira, 21 de Junho de 2013 - 07:06:12 CEST
“Carregamos um mundo novo em nossos corações, que cresce a cada momento. Ele está
crescendo neste instante [...].” Buenaventura Durruti ---- As manifestações que se
espalharam pelo Brasil em decorrência do preço abusivo das tarifas do transporte coletivo,
em solidariedade à luta que começou em São Paulo e contra os megaeventos da FIFA (Copa das
Confederações e Copa do Mundo), estão tendo Belo Horizonte como uma das cidades
protagonistas. Entre os dias 13 e 17 de junho de 2013, houve na capital o II Seminário do
COPAC (Comitê Popular dos Atingidos Pela Copa) e mais de 60 mil pessoas foram às ruas em
duas grandes manifestações - no sábado e na segunda-feira -, mobilização que não era
alcançada há mais de duas décadas.
Os atos têm durado mais de 6 horas, fechando todas as faixas das avenidas mais
movimentadas da cidade, tomando as ruas de forma categórica e enfrentando a violenta
repressão policial, formando gigantes espaços ocupados por multidões de pessoas que não
discutem nada além do atual estado das coisas na cidade e no país.
Em meio à grande revolta popular que paira sobre o país, alguns pontos reparados no
contato direto com as mobilizações devem, em nossa avaliação, ser profundamente discutidos
por tod s nós. Acreditamos que são não houver grande esforço por parte dos movimentos
populares, das organizações políticas de esquerda e das forças que compõe o povo, nossas
mobilizações correm imenso risco de serem desnorteadas, freadas e cooptadas por elementos
externos à luta popular que estão se infiltrando em seu seio.
VIOLÊNCIA: ESTADO + FIFA x O POVO
É importante medirmos e balancearmos o aparato físico, ideológico e econômico que as duas
partes têm à sua disposição: O Estado tem o Exército; tem suas polícias, uma investigativa
e outra militar; a militar com suas dezenas de batalhões (Choque, ações táticas/especiais,
cavalaria, cachorros etc.); com suas viaturas, helicópteros, blindados; suas bombas
(efeito moral, gás lacrimogêneo, spray de pimenta) e suas armas (letais, de borracha, de
choque etc.). Esta estrutura do Estado é gerida pelas grandes elites brasileiras por
financiarem as campanhas dos políticos, e as intenções de tais grandes elites são as
disseminadas no complexo e muito bem estruturado poder da mídia. A Fifa, uma empresa
privada norte-americana, por ter em mãos o poder político e econômico internacional que o
futebol pode proporcionar, submete qualquer Estado ao seu bel prazer em nome dos
megaeventos que realiza, reduzindo a pó conquistas populares históricas e legitimando
massacres e perseguições à pobreza.
O povo, de outro lado, possui sua consciência, sua solidariedade, seus sonhos e no máximo
algumas pedras e coquetéis molotov. É drástica e até surreal a discrepância nessa balança.
Um povo submetido à barbárie pelo Estado em função dos lucros exorbitantes e da aplicação
de políticas antipopulares de alguns, quando se rebela, se encontra no mais natural estado
de auto-defesa. Jamais se encontra no estado de violento. Vitrines de bancos -
sanguessugas da riqueza nacional -, viaturas quebradas, pixações de protesto, algumas
pedras lançadas ou mesmo algumas barricadas de fogo nas ruas não são comparadas à
violência econômica, política e física que o povo sofre diariamente - e mais
acentuadamente no contexto da Copa.
É percebida claramente uma reprodução por grande parte dos manifestantes do discurso de
"anti-violência" e "manifestação pacífica". Quando algum companheiro ousa atacar algum
símbolo da Fifa ou mesmo das grandes empresas que financiam a Copa, logo vários
manifestantes rechaçam e reprimem. Em nossa leitura, atitudes assim são equivocadas e
adoradas por nossos inimigos.
O DESESPERO DA MÍDIA: AMIGÁVEIS COM OS PACÍFICOS, TRADICIONAL COM OS "VIOLENTOS"
É por medo que a grande mídia criou todo um arranjo manipulador que insiste em dar uma
conotação positiva às "manifestações pacíficas" e continuar em sua linha tradicional de
difamar os ditos "violentos". As proporções que tomaram os protestos no país não eram
esperadas e são extremamente preocupantes para os nossos inimigos. Mais de 500 mil pessoas
nas ruas em todo o país, sendo 100 mil em uma única capital (São Paulo, a mais visada
internacionalmente, por ser o centro econômico do Brasil), é uma realidade que amedronta
as elites. Mas toda essa mobilização rumando pacificamente - criminalizando os que são
taxados de violentos – com pessoas gritando "abaixo a corrupção", "o gigante acordou",
"fora Renan" e "fora Dilma", enquanto se enrolam em bandeiras do Brasil, de fato não
causaria tanto temor. O grande medo dos inimigos é a situação de combatividade que se
iniciou em São Paulo e nasceu nas demais capitais. A pauta de redução da tarifa, de
repúdio à Fifa por suas catástrofes sociais e econômicas e repúdio à violência policial,
acompanhada de manifestações combativas e com caráter de enfrentamento é muito mais
perigosa que a da corrupção, do "fora Dilma" e "Fora Renan", patriota e pacífica. É mais
perigosa, primeiro, porque ataca diretamente uma das raízes dos problemas sociais - que
aos ricos são suas soluções -, e, segundo, porque ousa desmantelar a disciplina e o
controle dos rebeldes impostas pelo Estado e pelos nossos demais inimigos, fundamentais
para manutenção do capital, da exploração e da opressão.
O DESESPERO DA POLÍCIA: A AMIGA QUE DÁ PAULADA
Nesse sentido nós vemos a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) se alinhando
estrategicamente para conquistar os manifestantes: alocando a Coronel da corporação para
fazer papel de bondosa, dialogável e afável amiga dos rebeldes, comandando uma tropa de
choque que atravessa cegos no meio da manifestação e tirando foto com manifestantes
enrolados em suas bandeiras do Brasil. É uma estratégia descarada de pacificação da imagem
(já tão queimada) da Polícia Militar, que, na prática, com 50 mil pessoas marchando rumo
ao Mineirão, mostra sua verdadeira face descendo chumbo na população, não se preocupando
se serão mulheres, idosos ou crianças os atingidos. Além disso, percebe-se um esquema
articulado entre a PMMG e a mídia, quando vemos grupos isolados atacando a prefeitura e
saqueando lojas sem nenhuma represália da polícia que assiste de longe, enquanto as as
câmeras da imprensa registrarem o conteúdo com intuito claro de criminalizar o movimento.
INFILTRAÇÃO DE DISCURSOS E PRÁTICAS DA DIREITA
É também muito visível uma infiltração estratégica da direita organizada nas mobilizações.
O próprio discurso de ataque fervoroso e exclusivo ao PT e à corrupção (que já se fundem)
é uma delas: o motivo é desgastar o governo federal para as próximas eleições, ou mesmo
para possíveis revoltas contra o "PT", que no fim das contas se tornam contra a "esquerda"
em geral, recuando ainda mais a população e seu discurso para o espectro da direita.
Militantes descaracterizados de partidos historicamente de direita (PSDB, DEM etc) ou
mesmo pessoas deliberadamente de direita mas que não são filiados aos partidos puxam
palavras de ordem e incentivam práticas que devem ser rechaçadas pelos rebeldes num
aspecto geral (como entregar pichadores para polícia, linchar manifestantes radicalizados
etc.).
De outro lado, a utilização e reprodução de símbolos nacionais devem ser repudiadas. Um
hino e uma bandeira nacional são símbolos que representam mais de 500 anos de drama e
exploração do povo, perpetrados pelas elites. O lema que a bandeira nacional carrega,
"Ordem e Progresso", é muito claro quando se pensa numa necessidade das elites manterem a
"Ordem" ao povo para que haja o vosso "Progesso". É esse mesmo sentimento nacionalista e
patriota que foi utilizado para ludibriar o nosso povo durante inúmeros contextos de
conflito social, desde as ditaduras de Vargas e a Militar até os dias de hoje. O nosso
povo possui diversas palavras de ordem, bandeiras e símbolos de resistência e de luta que
são muito mais compatíveis com o momento do que os símbolos que representam uma história
de manipulação e exploração. Detestam bandeiras que contenham conteúdo "socialista",
"comunista", “anarquista” ou "revolucionário", no entanto, entoam a bandeira da "Ordem e
Progresso". Desse modo, silenciosa e perigosa, a direita tenta avançar na disseminação de
seu discurso e no esquecimento de nossas bandeiras de luta.
Existem ainda outras questões que são discutidas e apresentadas no próprio seio das
manifestações de modo menos complicado, que não necessitem de discussões mais aprofundadas
como estas apresentadas. É claro que a cada novo dia de mobilização, na atual situação,
alguns panoramas mudam, resolvendo alguns equívocos políticos e nos apresentando outros. É
nesse sentido que a militância do COMPA busca atuar no movimento de Belo Horizonte, seja
nas reuniões, nas assembleias, nas manifestações, nos movimentos sociais ou em quaisquer
espaços que existem ou que estejam surgindo laços de mobilização rebelde.
Construir o Poder Popular nos atos e nas Assembléias Populares e Horizontais para fazer
nossos inimigos recuarem e conquistarmos nossas bandeiras!
Criar um povo forte para construir o Poder Popular!
Pela esquerda e por baixo, Avante à Luta!
Coletivo Mineiro Popular Anarquista
Belo Horizonte, 20 de Junho de 2013
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