(pt) Florianópolis - Coletivo Anarquista Bandeira Negra - Nota sobre expulsão de militante (en)
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Sexta-Feira, 19 de Julho de 2013 - 10:07:55 CEST
No início do mês de junho de 2013, recebemos a informação de que o militante Leandro Bó,
da Frente Comunitária da nossa organização, havia agredido a companheira com quem morava e
ainda mantém um relacionamento. Além disso, outros comportamentos violentos eram
recorrentes, como humilhação e coerção psicológica, que nos foram relatados pela própria
companheira, que atua junto a nossa militância nos movimentos sociais, além dos vínculos
de amizade que temos. ---- Para nós, essa foi uma quebra de confiança completa e uma
atitude em total desacordo com nossos princípios. Defendemos que a luta contra o machismo
e o patriarcado são centrais, assim como todas as opressões, e que um caso de violência de
gênero é inaceitável vindo de quem quer que seja. Vindo de alguém que se considera
anarquista, é absurdo e incoerente.
Nós nos posicionamos, desde então, em completa solidariedade à companheira, que buscamos
auxiliar nesse momento difícil. Ajudamos sua mudança da casa, oferecendo outro lugar para
que morasse. Sugerimos que ela denunciasse a história e nos dispusemos a ajudar nessa
tarefa, porque entendemos que o silêncio só favorece o agressor, assim como já nos
posicionamos em outros casos de violência machista. No entanto, respeitamos seu pedido de
sigilo e, por isso, a história não foi tornada pública naquele momento.
Quanto ao militante, ele foi imediatamente afastado da organização, tanto externa quanto
internamente. Por ter reconhecido o grave erro cometido e alegado disposição para mudar
seu comportamento, estipulamos uma série de exigências necessárias para reavaliarmos
posteriormente a retomada (ou não) de sua atuação em nossos espaços: 1) nunca mais agredir
ou ter posturas violentas em um relacionamento, 2) procurar ajuda psicológica para seu
comportamento agressivo, 3) procurar também um grupo de reflexão para agressores, para
discutir e refletir sobre suas posturas, 4) se manter afastado da militância, 5) ler e
pesquisar sobre feminismo e violência de gênero, para produzir um material de síntese
sobre o tema, 6) fazer repasses periódicos à nossa organização sobre o cumprimento dessas
exigências, para avaliação coletiva.
Esses passos não foram cumpridos e o militante reincidiu na agressão. Por isso, julgamos
que é necessário nos posicionarmos publicamente, o que fizemos discutindo novamente junto
à companheira.
Entendemos que essas eram exigências mínimas para começarmos a lidar com seriedade com o
problema da violência de gênero, que não é uma falha individual de uma ou outra pessoa,
mas uma questão social, amplamente difundida e sustentada na cultura machista que vivemos.
Buscamos dar uma resposta mais efetiva que uma mera expulsão, que apenas lavaria nossas
mãos, isolando o ex-militante das discussões feministas e libertárias onde ele precisa
estar inserido, agora mais do que nunca. Ao mesmo tempo, buscamos não expôr nenhum(a)
companheiro(a) a atuar politicamente ao seu lado sem estar ciente da situação.
Soluções punitivas, mas que não tratam da origem dos problemas, são a prática que o Estado
já oferece hoje. Para construir uma sociedade libertária e feminista, precisaremos
construir métodos que sejam feministas e libertários para tratar dos problemas sociais,
incluindo aí a violência de gênero. É uma tarefa muito árdua, na qual temos mais dúvidas
do que respostas, mas que julgamos necessária.
Por isso, precisamos continuamente debater as questões de gênero e reavaliar nossas
posturas políticas, incluindo aí todas as relações sociais. Pois dentro de um sistema onde
a violência estrutural é uma característica central as relações sociais também estão
marcadas pela opressão. Vemos cotidianamente as lutas feministas serem secundarizadas nos
movimentos sociais e organizações de esquerda, inclusive nos meios libertários, e
precisamos estar dispostos a enfrentar essa situação. Não queremos com essa nota nos
isentar de quaisquer avaliações ou críticas, mas sim dar visibilidade a essa questão e
fortalecer a discussão de gênero dentro dos espaços políticos que participamos.
Lançamos esta nota não apenas para tornar público uma violência de gênero, mas porque
queremos construir juntos os mecanismos de uma justiça revolucionária libertária – pois a
liberdade só se constrói com liberdade.
Assim como o socialismo será libertário ou não será socialismo, a revolução será feminista
ou não será!
Núcleo Florianópolis – Coletivo Anarquista Bandeira Negra
Posted in: CABN, Notas
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