(pt) Anarkismo.net: Três lições políticas dos protestos no Brasil by Bruno Lima Rocha
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Domingo, 7 de Julho de 2013 - 11:09:47 CEST
O Brasil não será como antes, não ao menos em termos de cultura política. Após dez anos de
pasmaceira e vinte e um anos sem manifestações massivas, o país se reencontra com a luta
política de rua e de massas. Algumas lições foram transmitidas, dentre as quais elenco
três. ---- Primeiro, a noção de que os direitos fundamentais não são fruto da ação
institucional, mas sim da luta coletiva. Dentro do rigor fiscal e do contingenciamento de
verbas públicas, uma política distributiva é fruto direto da pressão popular. Do
contrário, a rotina das agendas burocráticas sempre supera a maioria silenciosa. É conta
de chegada. Quando uma parte desta maioria mobiliza-se, os ocupantes de postos-chave no
Estado se vêem contra a parede. ---- Segundo, a ideia de auto-organização. Este conceito
fundamental para o sindicalismo, também chamado de independência de classe, estava esquecido.
Não caberia mais colocar gente na rua utilizando como abre alas uma enorme faixa vermelha
ou amarela, para fazer um desfile cívico cidadão com parlamentares ou candidatos a cargos
eletivos à frente. Ainda estamos longe da consigna da Argentina em dezembro de 2001 (“que
se vayan todos!”), mas ao menos está instaurada a desconfiança no processo decisório dos
gabinetes e no jogo dos poderes constituídos.
Terceiro, nota-se que finalmente a internet cumpre seu destino manifesto, o de atingir
quem se encontrava atomizado, desorganizado. Este papel, o de falar com a maioria que não
faz política no dia a dia e informa-se pouco foi possível através da rede mundial de
computadores, em especial nas redes de relacionamento. As conversas entre pessoas
conhecidas, grupos de afinidade por causas específicas ou temáticas particulares
finalmente conseguiu massificar-se no Brasil. Há cinco anos eu participei de uma pesquisa
de campo onde se apontava o uso diário da web entre jovens de 14 a 20 anos. Este era
banal, para fins privados e sem temas de fundo. Aumentou o tempo de navegação e o uso da
internet móvel. Proporcionalmente, dez por cento de milhões de usuários fizeram a
diferença nestas jornadas.
O saldo é positivo. A democracia representativa é exercida por pessoas em cargo eletivo,
de confiança, comissão e grupos organizados em prol dos agentes econômicos. A democracia
que emerge das ruas brasileiras é outra. Não tem “paciência histórica” e aprendeu o
traquejo vendo o andar de cima deitar e rolar; primeiro se pressiona para depois negociar
margens de conquistas. Definitivamente, esta é uma nova etapa política.
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