(pt) Anatkismo.net: China, Brasil e o espelho retorcido by Bruno Lima Rocha (en)
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Sábado, 19 de Janeiro de 2013 - 19:39:21 CET
A poluição de Beijing, em níveis absurdos e humanamente insuportáveis, é o reflexo de uma
escolha de crescimento capitalista a todo e qualquer custo. ---- No sábado dia 12 de
janeiro Beijing, capital da China e cidade imperial, bateu recordes absolutos de poluição
atmosférica. Lembrando os piores dias de Cubatão, o ar ficou irrespirável superando em
quarenta vezes os índices toleráveis pela humanidade. ---- Como já escrevi aqui em outras
ocasiões, nada disso é novidade e faz parte do paradoxo contemporâneo. Desde que
implantaram como razão de Estado o lema de Deng Xiao Ping (Enriqueçam!), o país de Mao
Zedong não mede esforços para o crescimento econômico e o desenvolvimento – a qualquer
custo - das forças produtivas. O problema reside aí.
Inicialmente através de Zonas de Processamento de Exportações (nos anos 1980), depois com
a progressiva liberalização da economia (embora ainda sem a abertura do mercado de
capitais), o capitalismo chinês aproximou dois extremos complementares. Por um lado,
aplica de forma exemplar a premissa neoliberal de que as liberdades econômicas estão acima
das liberdades políticas. Por outro, as formas de contenção das democracias liberais de
pouco ou nada valem. Dentre estas, o pacote de leis ambientais, que embora melhorem a
qualidade de vida dos cidadãos, em último caso, reduzem a produtividade e os ganhos em
escala. Entre o lucro e a vida, os mandarins convertidos em empresários selvagens fizeram
sua escolha.
Já a democracia brasileira arrumou uma “solução” para este mesmo problema. Temos outro
tipo de paradoxo, menos sincero. Aqui se combinam a mais avançada legislação ambiental do
mundo com um selvagem crescimento do agro-negócio e da extração de matérias-primas.
Liderada pelas commodities soja e minério, a balança comercial brasileira ancora o
crescimento nacional. Dependemos da venda de produtos primários sem valor agregado. A
conta é salgada, tanto em termos de dependência da apreciação destas mercadorias como para
os biomas brasileiros. O desenvolvimentismo nacional não leva em conta o fator cultural e
nem as formas de vida. Projetos como Jirau ou Belo Monte materializam o conceito. Para
completar a tragédia, os colunistas conservadores classificam quem defende o uso racional
dos bens não duráveis de “eco chatos”.
Elogia-se o crescimento chinês em seus piores aspectos enquanto aqui se consolida uma
irresponsável plataforma de exportação primária. A biodiversidade é considerada o ativo
mais importante nos discursos oficiais, mas nunca é prioridade nas políticas de
desenvolvimento. É esta a convicção do Executivo. O cenário internacional dos emergentes é
como um espelho retorcido.
Bruno Lima Rocha
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