(pt) Brazil, Anarkio.net: Colônia Cecília A-Infos 16 (en)
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Sexta-Feira, 11 de Janeiro de 2013 - 08:42:26 CET
A Colônia Cecília foi uma experiência anarquista do italiano Giovanni Rossi, no ano de
1890 no Estado de Paraná. ---- Giovanni Rossi foi membro da I Internacional (torna-se
membro em 1873) e desde sua adesão, manteve acesso o projeto de formar uma colônia
experimental baseada no princípios de autogestão de sua economia, política e liberdade
plena aos participantes. Nos meios libertários sua iniciativa não foi bem vista e
criticavam esse caráter de fuga da luta que a imagem de uma colônia fazia. ---- A Colônia
Cecília não foi a primeira colônia coordenada por Rossi, anteriormente, na própria Itália,
desenvolveu algumas, sendo a mais conhecida a da Cittadella, na aldeia de Stagno Lombardo
(norte da Itália) e que é abandonada em 1889. Mas isso não tira de Rossi sua disposição
para tal iniciativa.
Após a longa travessia de barco, os pioneiros italianos desembarcam no Brasil, Rio de
Janeiro e mudam a decisão de irem para Porta Alegre. Irão para o Paraná, pelo acordo com o
governo (ler mais abaixo a respeito). Nos primeiros dias de Abril, ele e seu companheiro
Evangelista Benedetti, acampam na região que seria a Colônia, perto da cidade de Palmeira
(18 Km).
Não há confirmação oficial de um tratado entre o Imperador e Giovanni Rossi a respeito de
doação de terras, portanto é uma afirmação sem apoio histórico, o fato é que ele recebeu
do recente governo republicano, a concessão de algumas terras com o acordo de que em 5
anos que as pagasse, transferindo assim a colônia o direito de posse, isso não aconteceu.
Neste início, por perto de 16 pessoas, sendo apenas 1 mulher é que começam o trabalho da
terra, “sem regulamentos nem chefes”.
Preparam o terreno e constroem alojamentos e depósitos de equipamentos e mantimentos, bem
com cercados para os animais recém adquiridos. Tudo corre bem e no final de 1890, Rossi
parte para Itália com o objetivo de obter mais voluntários para o projeto. Esses chegam em
levas sucessivas, chegando aproximadamente à 200 pessoas em maio de 1891 (ver quadro
populacional no livro). A estrutura da recente colônia não suporta o grande aumento,
surgindo assim vários problemas consequentemente. Falta espaço nos alojamentos e há falta
de alimentos. Em tal situação de emergência, formam um grupo de voluntários para trabalhar
nas estradas do Governo. Outra alternativa usada foi a obtenção de crédito com os
comerciantes, em Palmeira (lastreado no trabalho nas estradas). No entanto, a comunidade
se mantém (produção de tijolo, aumento da horta, ampliação dos alojamentos etc).
No entanto, no aumento da população da colônia e seu estado de pobreza generalizado, gera
nos participantes, muitos dos quais, não tinham nenhum contato com o movimento trabalhador
internacional ou conhecia as vertentes do socialismo, competitividade e um egoísmo forte
se instalam em muitos (a sobrevivência vence a cooperatividade no grupo). Neste meio,
instala-se o modelo político parlamentar e a ditadura de algumas famílias, corrompendo os
princípios libertários de autogestão e coletividade/liberdade social.
Com um ambiente totalmente desestruturado, muitas famílias retiram-se da colônia, indo
para a Curitiba. Em junho de 1891, restavam na colônia, sete famílias em disputa. No
mesmo mês, tento a frente sete jovens, reestruturam a colônia em moldes libertários
(autogestão e liberdade plena). Esta forma dura uns 4 meses, tento na colônia umas 30
pessoas. Por este período Rossi retorna a colônia, pois ele é a ponte entre a colônia e o
mundo proletário, escrevendo e apresentando a colônia ao mundo, convocando voluntários.
No fim de 1891 chega mais dois grupos de famílias, sendo que a população da colônia chega
aproximadamente a 100 pessoas. Embora uma revigorada na comunidade, não se alivia muito a
situação de competitividade e rivalidade, chegando mesmo a criar uma corporação informal
de família (comparação de quem trabalha e quem não trabalha). Algumas famílias procuram se
estabelecer independentemente da colônia. Como se verificava, a situação havia estagnado
na colônia provocando um descontentamento e forçando a saída de muitos da colônia. Em
abril 1892, o decréscimo populacional é muito grande, não há mais do que 40 pessoas na
comunidade. Rossi solicita então a Cappellaro ir a Itália, para convocar novos voluntários
para colônia.
Neste período, alguns ex-participantes (os Gattai estão no meio) da colônia são presos por
roubo, contribuindo para uma má imagem da comunidade (até então era boa e regular nas
redondezas da colônia). Após este incidente, observa-se um deterioramento nas relações
sociais da colônia e a sociedade brasileira em sua volta, sendo que o governador do Paraná
pede observação severa da colônia. A favor esta apenas a imprensa local, que procura
desassociar a imagem de criminalidade dos ex-membros da colônia com a própria colônia,
este apoio embora importante, é muito pequeno perto da campanha maciça contra a
“famigerada colônia”.
No final de 1892, chega uma nova leva de famílias à colônia, subindo o número populacional
para umas 80 pessoas. Os problemas anteriores, no entanto, se mantém, o autoritarismo de
algumas famílias abafam o ardor libertário das novas famílias que chegam. Em 1893, há como
houve anteriormente, saídas das famílias, descontentes com as condutas autoritárias de uns
poucos. No período estima-se na colônia umas 50 pessoas. Após 3 anos de experiências da
colônia, é apresentada a imprensa anarquista internacional um balanço geral da colônia.
Rossi, sendo sincero, com sua perseverança diminuída, apresenta reflexões críticas sobre
a colônia, destacando as heranças burguesas que não são abandonadas na comunidade (inveja,
gula, autoritarismo, intolerância etc). No aspecto sexual, Rossi apresenta um caso de um
triângulo amoroso consentido, por parte do marido, de sua esposa por um outro. O ciúme e a
dificuldade de lidar com situação são apresentados por Rossi. A falta de companheiras na
colônia é um aspecto negativo que faz a moral cair. A idéia de amor livre (entende-se
poligamia feminina) não é bem aceita no meio da comunidade, os conceitos conservadores e
tradicionais ainda estão muito presentes nos habitantes da colônia.
O fim da colônia esta marcada por dois fatores: A Revolução Federalista de 1893 (Maragatos
e Picapaus). Os primeiros são federalistas, descentralização e autonomia dos Estados
enquanto os segundos, republicanos, querem um governo forte e central. Os colonos
cecilianos aderem aos Maragatos. Tal adesão à causa federalista promove uma retaliação do
governo central brasileiro, confiscando e vendendo as terras da colônia. O apoio não é
pela causa, mas pela atitude autoritária do governo (representantes do governo exigem
pagamento de impostos e quebram instrumentos de trabalho e alojamentos da colônia).
Não há um fator especifico para o fim da colônia, mas vários que se destacaram ao longo de
sua jornada, sendo que a data última da colônia seria em abril de 1894, quando as últimas
famílias saem da colônia e se dispersam pelo país.
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Este texto foi produzido em 1998 para o Círculo de Estudos Dona Tina
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