(pt) Apoio Mútuo #2 - Mais um que morreu... dizem que foi um acidente...
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Segunda-Feira, 25 de Fevereiro de 2013 - 15:35:33 CET
Em 25 de março de 1911, irrompeu um incêndio na fábrica téxtil “Triangle Shirtwaist”, um
dos piores desastres industriais dos Estados Unidos da América, impulsionando um forte
movimento laboral, que contou com a violenta repressão do Estado. Inicialmente, as
testemunhas no local descreveram fardos de roupa a saltar pela janela, para então se
aperceberem de que eram pessoas, trabalhadores, na sua maioria jovens mulheres, que haviam
saltado num acto de desespero. Após o rescaldo do incêndio, os bombeiros des creveram
portas, que haviam sido trancadas, com marcas de unhas. Foi devido às más condições
laborais. Resultaram 146 mortos. ---- Em 14 de dezembro de 2010, cerca de 100 anos depois,
irrompe um incêndio numa fábrica textil, em Ameen, no Bangladesh. A mesma descrição, a
mes ma história. Devido às más condições de trabalho, resultaram mais de 100 vítimas. Os
trabalhadores protestaram, o Estado ofereceulhes o cassetete.
Todos os dias ouvimos, por intermé-
dio de amigos, familiares ou conhecidos,
sobre alguém vítima de um acidente de
trabalho ou doença profissional, a maio-
ria das vezes sob a forma da famosa ex-
pressão: “está de baixa”. No entanto, se
a maioria dos casos de acidente laboral
tem consequências reversíveis, já outros
resultam em danos ou lesões permanen-
tes, outros ainda, acabam na forma mais
irreversível de todas, a morte. E, se em
Portugal os acidentes laborais, que de
acordo com a ACT, ascendem a mais de
250 000 por ano, tornaramse dema-
siado familiares, então as 115 mortes
por acidente de trabalho e as 132
relacionadas com doenças profis-
sionais, em 2009, são aterrorizadora-
mente comuns. A maioria destas tive-
ram a sua origem nas indústrias que, se-
gundo os moralistas (os capitalistas e os
seus defensores), têm sido o pilar da
economia e do progresso em Portugal, a
transformadora e o sector da constru-
ção. A título de exemplo, dentro do sec-
tor da construção, uma das principais
causas de morte é a “queda em altura”.
E são esses mesmos moralistas que de-
fendem regras mais apertadas para a
defesa do capital e da propriedade pri-
vada, mas que torcem o nariz quando se
fala de melhores condições de trabalho,
pois, segundo eles, isto já representa um
“impedimento ao mercado livre” ou algo
que nos torna “incompetitivos”.
E para quem ainda tenha dúvidas,
um acidente de trabalho, assim como
uma doença profissional, não é fruto do
acaso. Estes não, simplesmente, “acon-
tecem”, da mesma forma que o céu não
irá, eventualmente, cairnos em cima.
Isto são mitos. Estes fenómenos são fru-
to de negligência. Uma negligência cri-
minosa, pois mata e quando não mata
pode deixar danos que marcarão a víti-
ma para o resto da sua vida.
E o Estado? Esse cria “autoridades”,
como a autoridade para as condições de
trabalho (ACT), para logo a seguir de-
pauperála de meios humanos, tornan-
doa ineficaz e ineficiente para cumprir-
a sua função fiscalizadora.
Na Europa
Enganase quem acha que isto é
apenas um fenómeno exclusivamente
português. Na Europa, de acordo com a
AESST ocorre 1 acidente a cada 5 se-
gundos resultando na morte de um
trabalhador a cada 2 horas, e mais-
de 140 mil casos de doença profis
sional, todos os anos. Um terço destes
atribuíveis à exposição de substâncias
perigosas no local de trabalho. E o tem-
po não pára...
No mundo
Quando observamos o todo, somos
confrontados com a realidade. Em todo
o mundo, segundo a OIT, ocorrem 270
milhões de acidentes de trabalho
produzindo mais de 2 milhões de ví-
timas mortais, e 160 milhões de
casos de doença profissional, por
ano. E, ao compararmos os números,
concluímos que os acidentes de trabalho
provocam mais vítimas que os con-
flitos armados (500 mil por ano, se-
gundo a AI)! E isto tem um nome: ter-
rorismo! Pois a melhor forma de con-
tinuar vivo, não é evitando uma guerra,
mas antes o trabalho.
Mais um que morreu... foi um
crime...
Hoje, como ontem, acidente la-
boral é terrorismo patronal!
O.
Fontes: OIT (Organização Internacional de Traba-
lho), Agência de Bilbao, ACT (Autoridade para as
Condições de Trabalho), GEP (Gabinete de Estraté-
gia e Planeamento), CNPCRP (Centro Nacional de
Protecção contra os Riscos Profissionais), PRIO
(Peace Research Institute Oslo), AESST (Agência
Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho), AI
(Amnistia Internacional)
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