(pt) Portugal, Apoio Mútuo #2, Janeiro 2013 - Fazer sindicalismo
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Quinta-Feira, 14 de Fevereiro de 2013 - 16:46:17 CET
Tudo o que concerne à lei e não se limite à defesa dos privilégios da classe dominante e
às necessidades de arbitragem para as suas quezílias internas, apenas existe porque a
pressão da classe trabalhadora a isso obrigou. ---- Apartir do momento em que essa
pressão desaparece, haverá, em primeiro lugar, a tendência para ignorar a lei e,
posteriormente, a partir do momento em que surja algo que convide a burguesia a aumentar a
exploração sobre os trabalhadores, a pressão para que as leis sejam, não apenas ignoradas,
mas reescritas. Não é possível para a classe trabalhadora contrariar esta pressão por
meios políticos, visto que os aparelhos políticos que dominam o Estado não lhes
pertencem. Ainda que assim não fosse, a capacidade da classe trabalhadora para tornar
válidos quaisquer triunfos conseguidos na esfera legal tem por limite a sua força e
capacidade de resistência na esfera das relações de trabalho.
Ou a classe trabalhadora consegue
impor ao patronato o cumprimento da
lei por via da sua força e organização
no próprio local onde a exploração
acontece, ou a lei é inútil. Em situações
de fraqueza, como se conhecem tantas,
o próprio trabalhador irá colaborar
com o patrão na tarefa de o ajudar a
furtarse à lei.
A luta contra as tentativas de rees-
truturação das relações de classe por
parte do Estado não deve limitarse a
simples manifestações de descontenta-
mento passíveis de serem ignoradas e,
consequentemente, inúteis. Um sindi-
cato não é um grupo de cidadãos ou de
simples activistas, e não deverá actuar
como tal, conferindo à sua acção um
cariz peticionário que apenas contri-
buirá para embotar a sua capacidade
efectiva de luta, alimentando pelo ca-
minho ilusões cidadanistas no seio da
classe trabalhadora, nomeadamente a
noção da neutralidade do Estado e da
lei perante as classes sociais. As leis la-
borais não estão constantemente a ser
reescritas desde há 10 anos a esta par-
te devido a «equívocos», ou por os de-
cisores políticos se encontrarem reféns
de uma má ideologia, nomeadamente
o neoliberalismo, mas porque o meio
mais expedito que a burguesia tem ao
seu dispor para ultrapassar as crises é
colocálas sobre os ombros da classe
trabalhadora. Quando o Estado pre-
tende facilitar os despedimentos ou
cortar nas indemnizações argumen-
tando que desta forma aumentará o
emprego, não se deve replicar afir-
mando que existem estudos que de-
monstram que a criação de novos pos-
tos de trabalho é negligenciável, mas
denunciando a intenção real por trás
de semelhantes manobras, nomeada-
mente o desejo de enfraquecer a capa-
cidade negocial dos trabalhadores
dentro da empresa.
As greves gerais deverão ser decla-
radas com reivindicações concretas e a
disposição para as prosseguir até onde
seja necessário. Não compete aos sin-
dicatos fazer o trabalho do Estado e li-
mitar as reivindicações e os métodos
de luta dos trabalhadores àquilo que a
sociedade burguesa consegue digerir.
Uma greve geral não é uma «demons-
tração de descontentamento», mas
uma luta que se desencadeia, no míni-
mo, com o objectivo de exercer coac-
ção sobre um aparelho de coacção, de
obrigar o Estado a ceder, enquanto re-
presentante e regulador da sociedade
burguesa, naquilo que os trabalhado-
res desejem e, se os trabalhadores con-
seguirem, pela sua força, derrubar a
própria máquina de opressão capita-
lista, tal não será uma catástrofe, uma
tragédia, uma «crise política», mas o
triun fo. Será o fim da opres são e o fim
do capitalismo. E um trabalhador
que não aspira ao derrube do capitalismo
é um trabalhador que não aspira a
ser livre.
Vemos o sindicalismo a
ser manietado por partidos políticos
que, ou são simples apêndices do poder
burguês e, consequentemente, pouco
inclinados a favorecerem os interesses
dos trabalhadores, ou, por não o se-
rem, permanecem minoritários, dis
pondo de pouca força e poder, uma
parte nada menosprezável da mesma
devendose justamente ao controlo
exercido sobre o movimento sindical.
Longe de lhe serem úteis, de terem al-
go a oferecerlhe, os partidos políticos
vêm ao mundo do trabalho para o pa-
rasitar, fazendo dos sindicatos simples
câmaras de ressonância para as suas
frases de ordem e paralisandolhes os
movimentos de acordo com as conve-
niências do sistema político onde se
encontram bem instalados. Para todas
as finalidades práticas, os partidos po-
líticos são uma correia de transmissão
entre o poder burguês e o movimento
operário, actuando sempre no sentido
de ensaiar a integração dos trabalha-
dores no aparelho burocrático de ad
ministração do capitalismo, integração
essa que só poderá levar o sindicalis-
mo à morte mas, como os trabalhado-
res não podem prescindir de resistir ao
capitalismo e uma organização criada
para a luta mas que se recusa a lutar é
inútil, é forçoso que à integração do
sindicalismo na sociedade burguesa
corresponda, a prazo, o colapso do
próprio sindicalismo e a necessidade
de criar novos instrumentos de luta de
raiz.
Apoio Mútuo #2
JT
Outubro de 2012
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