(pt) Coletivo Anarquista Bandeira Negra - Nota de solidariedade ao Povo Guarani em luta em Santa Catarina
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Segunda-Feira, 19 de Agosto de 2013 - 13:47:01 CEST
"Esta terra livre, independente e soberana tem que se basear nos princípios fundamentais
indígenas. Princípios que superam os interesses pessoais e transcendem e abraçam as
esferas do social econômico, cultural e político. ---- Estes princípios são a essência
fundamental do ser Guarani, da Terra Sem Males e da Liberdade. Nossa essência é de ser sem
dono... ---- Princípios que impregnam o ser social, estima, solidariedade, expressada em
sentimento ao próximo, que permite superar e desprender-se do ser mesquinho e
individualista" ---- Wilson Changaray ---- Presidente da Assembléia do Povo Guarani da
Bolívia ---- O COLETIVO ANARQUISTA BANDEIRA NEGRA vem a público manifestar solidariedade
ao povo Mbya Guarani neste mês de agosto, nas datas internacionais de luta dirigidas
contra a desapropriação de suas terras e pela defesa de seu povo.
A história dos Guarani se sente presente no nosso dia-a-dia e mesmo assim permanece
invisível para a sociedade e para o Estado, que cotidianamente apaga da memória a história
de resistência deste povo guerreiro. Em todas as terras, invadidas por seus algozes, os
Guarani resistem como exemplo de luta, contra a colonização, genocídio, destruição da
floresta e racismo.
No Dia Mundial dos Povos Indígenas, sexta-feira (09/08), na reserva do Morro dos Cavalos,
em Palhoça-SC, nos somamos ombro a ombro, em solidariedade na realização de um ato que
paralisou a BR 101. Estivemos presentes, juntamente com outras forças, quilombolas,
estudantes, sem-terra, no sentido de publicizar a contrariedade à PEC 215 que tramita no
Congresso Nacional.
Esta Proposta de Emenda à Constituição inclui dentre as competências exclusivas do
Congresso Nacional a aprovação de demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos
povos originários e a ratificação das demarcações já homologadas, estabelecendo que os
critérios e procedimentos de demarcação sejam regulamentados por lei. Tal medida
representa um retrocesso na regularização, permitindo que os setores conservadores,
sobretudo a bancada ruralista, representante do agronegócio, logrem um golpe político,
sendo possível até mesmo reverter casos de terras que já foram homologadas.
O Estado, cúmplice deste retrocesso criminoso, prioriza os interesses do capitalismo
verde, ameaçando e condenando milhares de indígenas, quilombolas e trabalhadores(as)
rurais sem terra. A política imperialista e desenvolvimentista deste governo só vem a
demonstrar a continuidade do projeto colonialista e capitalista de décadas atrás. O atual
governo criou secretarias novas, abriu o debate, mas suas políticas assistencialistas,
morosas e clientelistas entravam a luta contra o extermínio. Um erro após o outro, a
omissão do Estado revela seu caráter capitalista e defensor do latifúndio. Os movimentos
sociais tornam-se duros inimigos para a consolidação do projeto do agronegócio e do
capital estrangeiro. As velhas oligarquias que se revezam no poder sustentam o
desenvolvimentismo e imprimem a relação entre a burguesia nacional com a de fora,
amparados pelo Estado que juridicamente visa a concentração de riquezas, o monopólio da
violência e o agravo do quadro social da pobreza.
Acreditamos que com a organização na luta e com a solidariedade dos de baixo, os povos
oprimidos, pode-se sedimentar o acúmulo e força social para romper com as estruturas da
burocracia e do capital. Nossa corrente anarquista também reivindica na história o cenário
de luta dos povos originários e formas organizacionais como o magonismo e o movimento
indígena, com a conquista da democracia direta, a propriedade comunal, o apoio-mútuo, a
solidariedade e a autogestão na Revolução Mexicana. Partilhamos da influência direta do
magonismo indígena bem como da expressão dos povos indígenas das Missões que legaram um
caráter de rebeldia ao colonialismo frente aos Estados-Nações.
Nós, anarquistas, defendemos e lutamos pela livre autodeterminação das comunidades
nativas, pois entendemos que sua organização está diretamente fincada dentro da construção
do poder popular, na ação direta. Pela auto-organização dos povos indígenas, tratando de
verter o fermento ideal para essa força, sem nada mendigar ao Estado, e tudo inserir na
emancipação total e revolucionária.
Toda a solidariedade ao Povo Guarani!
Contra a PEC 215 e o golpe político!
Organizar e lutar pelas bases!
Contra a criminalização dos movimentos indígenas e quilombolas!
Coletivo Anarquista Bandeira Negra
Agosto de 2013
Coletivo Anarquista Bandeira Negra
Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira
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