(pt) Brazil, Lula, Dirceu e a cultura de “esquerda” (en)
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Sexta-Feira, 28 de Dezembro de 2012 - 16:00:00 CET
O que estes dois homens fizeram de suas próprias trajetórias? Que cultura política é esta?
---- No dia 22 de dezembro o ex-ministro José Dirceu de Oliveira Silva recebeu uma
colunista da Folha de São Paulo cedo em seu apartamento. Dentre os trechos de conversa
reproduzidos pelo jornal dos Frias, me chama a atenção justo o que já fora destacado como
editorial da Carta Maior, portal este de apoio crítico ao governo. O ex-guerrilheiro
ressalta a falha de seu partido ao não criar “uma comunicação e uma cultura de esquerda no
país. Até nos Estados Unidos tem isso, jornais de esquerda, teatro de esquerda, cinema de
esquerda. É uma esquerda diferente, deles, mas que é totalmente contra a direita. Aqui no
Brasil não temos nada disso.” ---- Embora esta reflexão seja válida, e justificada, parece
outra saída tática.
Parodiando nosso poeta maior, vale perguntar: “Só agora José?!” Sim, porque dez anos após
a ascensão da maior liderança popular da história do Brasil, chegando ao Planalto através
de um pacto de classe assinado na Carta ao Povo Brasileiro, fica difícil crer nisso. Ou a
compreensão de cultura do “capa preta maior” não passa de um verniz estético; ou então a
geração de dirigentes petistas não entendeu nada do que leu (se leram) do conceito de
cultura de classe, operando como norma e código de conduta.
Soa como pastiche imaginar uma produção cultural contestadora em um país onde a melhoria
das condições de vida não passou nem perto do aumento da mobilização social. Ao contrário
dos demais governos de centro-esquerda da América Latina, aqui a disputa se reduziu à
arena política, isolando a luta econômica ao emprego direto e a criação de kits de
felicidades para o empresariado nacional. Já na frente ideológica, ocorreu a inversão de
papéis. Tal como na obra de George Orwell, a nova elite dirigente da granja se identifica
com os antigos inimigos. Por fim, a contradição é tamanha, que nem as boas políticas do
Ministério da Cultura, quando dirigido por Gilberto Gil ou Juca Ferreira, jamais receberam
orçamento e apoios necessários para seu bom desenvolvimento. Qualquer um que conheça
minimamente a escassez de recursos da Teia ou dos Pontos de Cultura concordará com a crítica.
É duro admitir, mas a “cultura” promovida nos últimos dez anos, embora não fosse
elitizada, promoveu o “bastantão”. Consumo suntuoso, lixo cultural em larga escala,
emprego direto e desmobilização social. Os valores circulando são conservadores, a adesão
ao sistema é integral e os setores dominantes nada têm com que se preocupar com Lula, e
agora Dilma, à frente do Poder Executivo.
Bruno Lima Rocha
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